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718- Serenidade (Parte 2)

Crédito: https://br.123rf.com/photo_46197551_Vector_illustration _of_doctor_man_carrying_his_first_ aid_bag.html
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Uma causa frequente de quebra da serenidade profissional é a avaliação retrospectiva do paciente/familiar da não realização das potencialidades dos métodos conforme previstas, ou seja, as futuras frustrações com as expectativas construídas sob alicerces bem ou mal compreendidos.

Não é incomum que as expectativas do paciente fiquem fincadas num pântano de incompreensão prenunciando esgarçamentos e rupturas da serenidade do profissional envolvido. Por isso, o valor da comunicação detalhada, sincera e empática, tanto como solilóquio do profissional quanto como diálogo, pois, inclusive, aquele favore este.

Há evidências sobre o crescimento do receio do médico de se ver num confronto com o paciente, o que representa um antagonista da preservação do estado de serenidade. Por isso, o médico naõ deve desconsiderar cada detalhe que possa expressar insatisfação de pacientes e circunstantes. Há o lado bom do sentido de alerta que é o capricho preventivo e há o lado ruim pela tensão em tom acima. A maturidade profissional promove o equilíbrio.

Sob aspecto essencialmente prático, é útil destacar dois suportes da serenidade profissional em meio ao potencial de conflitos da beira do leito:

O primeiro refere-se às diretrizes clínicas relacionadas à medicina baseada em evidências que cooperam para um conforto interno sobre processos de escolhas e qualidade da conduta a ser prescrita (efeito manada positivo).
O segundo é a Bioética que contribui para minimizar desconfortos internos, quer ajudando a repelir antes de acontecer, quer aliviando-os depois de instalados (efeito reconfortante).

A capacitação do médico para lapidar ajustes possíveis é decisiva na preservação da serenidade. Vale dizer, ponderar sobre o alcance da tecnociência em que confia, respeitar os limites éticos, morais e legais alinhados com a responsabilidade profissional e considerar a voz ativa do paciente. Pactos admissíveis consigo e com o paciente representam a trégua pró-serenidade dos duelos técnicos e humanos, a paz sensível que tem na inteligência emocional o fiel do equilíbrio das próprias emoções com as do paciente.

No mundo de atritos possíveis da beira do leito, as diretrizes clínicas ganharam projeção porque trazem lubrificação para as articulações com o princípio da beneficência. Já a individualidade do paciente é afirmada pelas articulação aos princípios da não maleficência e da autonomia. A serenidade protege-se na ausência de artroses.

A qualidade dos ajustes apreciados pela contemporaneidade precisa da compreensão profissional que a liberdade do paciente de manifestar -ou não- o consentimento ao médico adquiriu um plano hierarquicamente superior ao do propósito profissional da excelência tecnocientífica. É o paciente quem os torna- ou não- nivelados por três letras, Sim ou Não. Nada simples para o significado do Princípio Fundamental II do Código de Ética Médica vigente: O alvo de toda a atenção do médico é a saúde do ser humano, em benefício da qual deverá agir com o máximo de zelo e o melhor de sua capacidade profissional. Muitos médicos tendem a sair do sério quando contrariados, levam para o lado pessoal. Na verdade, a contraposição do paciente é à medicina.

Como o médico não costuma ser absolutamente passivo após os esclarecimentos ao paciente, sua receptividade e obediência a um eventual Não do paciente deve considerar uma complementação das explicações a um leigo. Frente ao Não do paciente, em prol da serenidade associada ao seu compromisso com a medicina, o médico estimula-se a  repassar os esclarecimentos e a identificar causas da negativa. É atitude de forum íntimo enquadrada como paternalismo brando, assim adjetivado porque inadmite tanto a coerção quanto a proibição. Não deixa de ser um estado de conflito que se pretende controlado e provisório até que haja um endosso do prévio Não ou a mudança para um Sim.

Entendo que o incômodo interior profissional do médico causado por um Não do paciente a uma recomendação beneficente só se aquieta – leia-se preserva a serenidade- quando há iniciativas externas, como as admitidas como paternalismo brando. Elas são essenciais para reforçar ao juízo próprio que está sendo praticado o respeito à prudência e ao zelo.

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