Segunda opinião médica que vale por uma segunda primeira opinião e prosseguimento da atuação médica por um paternalismo, o brando, que presta novos esclarecimentos e se preocupa em conhecer eventuais motivos contornáveis do não consentimento, representam fontes de impacto da autonomia de relação em que um circunstante influente aplica a autoridade – não coercitiva- de quem, um profissional da saúde, conhece perfeitamente as distintas decorrências prognósticas do Sim doutor e do Não doutor. De alguma forma, a extensão do tempo de avaliação pelo paciente é contribuição vital para a mudança de opinião.
Uma causa das mudanças rumo ao consentimento decorrentes desta disposição temporal é a oportunidade de reverter efeitos de vieses/preconceitos, estes poderosos acionadores de respostas mal pensadas.
Bioamigo, você há de concordar que o Homo sapiens concentra vieses/preconceitos, de modo consciente ou não. Formulamos opiniões favoráveis ou desfavoráveis de modo preconcebido, no automático mesmo, energizadas por uma rápida primeira análise, destituídas de um controle pela razão/experiência/ambiente cultural e enquadradas numa subjetividade preditiva muitas vezes associada a dificuldades pessoais em exercer a definição de coragem como prosseguir apesar do medo.
Pode-se dizer, bioamigo, que os consentimentos dados de maneira imediata pelo paciente à recomendação do médico são semelhantes e que os consentimentos pós-não consentimentos são, cada qual, efetivados a sua maneira, numa analogia ao início de Anna Karenina de Leon Tolstoi (1828-1910).
A circunstância da recusa pelo paciente que tanto angustia os jovens médicos ao se sentirem com mãos atadas traz, pois, à tona a premência de um mergulho epistêmico na concepção de viés, termo que admite, no ecossistema da beira do leito, o significado de simplificações/ distorções no julgamento e raciocínio que, no âmbito da conexão médico-paciente, afetam tomadas de decisão sobre qualidade de vida e sobrevida.
