Bioamigo, estima-se que aumentou o interesse do brasileiro por ciência e tecnologia nas últimas décadas com influências na linguagem sobre vários setores da vida. Contextos de diversas situações do cotidiano da sociedade associam-se a expressões de popularização da tecnociência.
No processo de popularização, distintas interpretações do discurso científico especializado, dito primário, resultam, quer nas “traduções” a serem divulgadas – por exemplo, via mídia -, quer nas recepções populares pelas influências da formação de cada cidadão(ã).
Simplificações inevitáveis de significados de palavras do jargão científico com a intenção da melhor compreensão leiga são fontes em potencial de distorções e mau uso. Reducionismos acontecem e há o risco de transitarem na contramão do cuidado com limites que os que lidam com ciência preservam na construção do conhecimento.
A pandemia causada pelo novo coronavírus (SARS-CoV-2) popularizou o termo evidência científica que compõe o conceito da Medicina Baseada em Evidências, entendendo-o como elemento essencial na composição da conduta clínica explícita e rigorosa em busca do melhor desfecho, custo financeiro e efetividade. 
O movimento idealizador da Medicina Baseada em Evidências teve forte influência da Epidemiologia Clínica dedicada à aplicação de princípios e métodos epidemiológicos na prática clínica, alinhada com conceitos de normalidade/anormalidade, precisão de testes diagnósticos, história natural e prognósticos das doenças, efetividade terapêutica e prevenção clínica.
A Medicina Baseada em Evidências passou a vingar a partir dos esforços de David Lawrence Sackett (1934-2015) e outros na Universidade de McMaster no Canadá, ao final do século XX.
A nomeação em três palavras foi excessiva em relação ao contexto que sempre norteou a medicina. De fato, o adjetivo clínica com suas particularidades habituais vira um substantivo de infinito alcance ao ser transformado em medicina, o adjetivo baseada dá forte sentido de fundamentada pela verdade e o substantivo evidência é mais usado numa conotação de infração.
Cerca de uma década de vida, no ano 2000, a Medicina Baseada em Evidências sofreu um revés motivado por abuso, o que, aliás, o próprio nome já de certa forma indicava como possível. 
O pioneiro Sackett publicou sob o título Os Pecados da Expertise e uma Proposta de Redenção que nunca mais daria aulas, escreveria ou atuaria como árbitro em qualquer assunto relacionado à prática clínica baseada em evidências. Justificou pela ocorrência de um desmedido poder adquirido pelos especialistas e por efeitos de conflitos de interesses – especialmente de natureza comercial- que faziam com que perspectivas dos especialistas prejudicassem o avanço da ciência na direção da verdade tão somente pelo mérito das informações. Enfatizou que via alto dano para a formação dos jovens.
