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893- Espinhos (Parte 3)

A Bioética da Beira do leito entende que certo efeito de massa – informações especializadas com fácil acesso pela população, campanhas de esclarecimentos, consultas coletivas- contribui para reduzir contraposições pelo paciente, pelo reforço do calor e melhor integração com os espinhos. Evidentemente, a confiança é essencial para que o paciente compartilhe  as especificidades de raciocínio clínico do médico, algo como ler a bula do medicamento com forte influência do sentido que norteou a prescrição, assim beneficiando a adesão.

Uma “quase parábola” de Sigmund Schlomo Freud (1856-1939) é aplicável neste âmbito da iatrogenia:

“… Faça-se passar fome, por igual, a um grupo composto por indivíduos mais diversos entre si. À medida que cresce a imperiosa necessidade de alimentar-se, se apagarão todas as diferenças individuais e emergirá, em seu lugar, as uniformes exteriorizações dessa única e não saciada pulsão…”.

Havendo favorável relação benefício/risco de adversidade (segundo mal), é desejável em função das realidades da doença (primeiro mal) que o lidar com o segundo mal pelo paciente seja profissionalmente respeitado no processo de consentimento, mas, é aceitável uma postura paternalista do médico que contribua para dar flexibilidade a diferenças de opinião. Esta situação verifica-se, por exemplo, quando o paciente não consente e o médico de uma forma branda (não coercitiva) expõe novamente os espinhos da forma mais realista pretendendo contrapor a analogias e imaginações que podem estar acentuando o pontiagudo dos espinhos e assim impedindo o encontro com o benefício.

A iatrogenia é fator de risco para conflitos na beira do leito. A Bioética da Beira do leito reforça que iatrogenia refere-se etimologicamente a qualquer atuação de responsabilidade do médico, muito embora, seja empregada por muitos para designar um malefício.

O enunciado lúdico do início deste artigo, do paciente retornado à farmácia após ler a bula, com seu simbolismo de troca de um fármaco por um cosmético, dá guarida a uma amplitude de circunstâncias da conexão médico-paciente onde malefícios relacionados aos métodos – não a falhas do médico- geram frustrações de expectativa por parte do paciente/familiar e consequente intenção de responsabilizar o profissional.

Por isso, a relevância da atitude médica de combinar na beira do leito a tríade composta por: a) rigidez tecnocientífica; b) abertura para o desconhecido, o inevitável; c) tolerância a contraposições de opinião, e que constituem alicerces da Bioética da Beira do leito de inspiração no comportamento transdisciplinar. A aplicação dialógica da “bula” quantum satis para cada método em medicina contribui para preservar o distanciamento entre bem e mal cogitáveis e, ao mesmo tempo, respeitar o direito à autonomia do paciente.

Caso após caso, os cuidados com a evitação de deixar conflitos fora de controle são imprescindíveis na beira do leito contemporânea de tantas necessidades deliberativas. São desafios sucessivos que  encontram analogia com Um menino nasceu! – O mundo tornou a começar! de talvez-300x149.jpgGrande Sertão: Veredas escrito por João Guimarães Rosa (1908-1967): Um caso nasceu! A medicina tornou a começar! … com benefícios, malefícios, Sim ou Não e… inúmeros talvezes… Alô Bioética!

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