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14-Seguro o meu smartphone, logo comprometo a segurança

Voltando ao tema do smartphone, sobre a distração que pode causar sobre as coisas que estão ao nosso redor,  temos que reconhecer que estamos chegando ao ponto em que nós não temos um smartphone, é ele que nos têm.  Assim como carimbo.

Ficamos reféns do imediatismo na palma da mão. Preenche nossos interesses. Aplaca nossas ansiedades. Próxima estação… Vício- já comentamos recentemente.

No caso do médico, o perigo é fazer com que o profissional em plena atividade  não esteja “presente” frente ao paciente, principalmente quando as mãos estão desocupadas, ou seja, quando não maneja algum instrumento com ou sem luvas. Quando é o trabalho mental que domina o atendimento, há mais chance de o médico não estar o ser humano completo que o paciente almeja.

A influência do uso do smartphone sobre timings estratégicos do atendimento médico pode provocar deslizes éticos. Desconexões e re-conexões podem re-situar o fio da meada em espaço distinto do original. Lapsos da memória recente podem resultar desapercebidos, provocando lacunas no raciocínio clínico.

Neste contexto de transformação do comportamento, recentemente, vi uma foto de um Simpósio. Lá estava o palestrante  de alto conceito na especialidade falando para uma platéia onde dois colegas, professores conhecidos, olhavam atentamente para o smartphone na primeira fila. Quem está acostumado a dar aula, sabe do desconforto de perceber alguém digitando, falando baixando, ou simplesmente, navegando no smartphone. No teatro não vi acontecer, mas no cinema, já me senti incomodado pela luz próxima de um smartphone utilizado em meio ao filme, contrariando o escurinho do cinema da Rita Lee. Não faça a outro, o que não queira que façam com você, é perfeitamente aplicável ao tema.

O smartphone torna-se uns óculos bifocais. Facilita o instantâneo e a simultaneidade. O ponto nevrálgico é  que  motiva a fragmentação do tempo idealmente continuado do atendimento médico-paciente.  Verifica-se o prejuízo da exclusividade  temporária, um clássico da atenção do médico à necessidade humana do paciente.

Em decorrência, o tempo do relógio, quantitativo, fica prejudicado no seu valor de acolhimento, ou seja, o tempo do vínculo perde qualidade. Habitualmente, médico e paciente ficam numa distância íntima- num exame físico- ou numa distância pessoal- explicando a conduta. O smartphone  atua,  não por mudar  necessariamente o número de centímetros, mas por transformar  o significado para distância social, e até mesmo, em casos mais extremos, para distância pública.

Falhas éticas assim acontecem, desvios e distrações, interrrupções e reduções de raciocínio, que trazem o potencial da imprudência e da negligência.

Hipócrates nos legou o princípio da Não Maleficência, pensou nos métodos sem perspectivas de benefícios e prejudiciais ao paciente. A Não Maleficência caminhou para a Segurança, pois métodos benéficos eclodem constantemente, cada um deles com um potencial de adversidades. Cabe ao médico ter a prudência de cotejar os prós e os contras na individualidade da aplicação ou não.

Prós e contras.  Como fica o smartphone? Sem nenhuma parcialidade em relação ao senso de propósito de cada uso, ele deve ser incluído na relação de fatores com potencial adversidade na beira do leito. Em suma, o smartphone é um risco à Segurança do paciente.

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