3834

PUBLICAÇÕES DESDE 2014

849- ASsim e SEnão (Parte 2)

Há um momento crítico nos muitos cenários de mistério que compõem tradicionalmente a beira do leito que se materializa como uma encruzilhada. De um lado chega o encalço do melhor conhecimento, habilidade e atitude pelo profissional da saúde e do outro lado chegam as reações do paciente sobre como é para se comportar e como deve considerar boas e más expectativas. Seu nome é consentimento livre e esclarecido.

Trata-se da expressão do direito à autonomia, tão simples como a verbalização de um Sim ou um Não, tão complexo pelas várias dobras entre as objetividades dos métodos recomendados e as subjetividades de um tipo de sentimento chamado desejo e que reafirma que o paciente é parte ativa na beira do leito contemporânea.

O consentimento livre e esclarecido funciona como um um código entre médico e paciente. Sem a senha Sim o sintoma/sinal não se transforma em investigação diagnóstica e esta não se metamorfoseia em terapêutica. Em outras palavras, o momento do consentimento pelo paciente é um ponto maior, um intervalo mesmo entre o processo de planejamento da estratégia terapêutica (não realizada ainda pela ausência do desejo expresso do paciente) e a sua efetiva realização- ou não.

A Bioética da Beira do leito enfatiza que a terapèutica que não existe – e é necessitada- poderá vir a existir na dependência obrigatória – salvo iminente risco de morte evitável- de uma palavra que não tem mais do que três letras na maioria dos idiomas. É aspecto linguístico curioso. Horas de suor e saliva sintetizadas num segundo. Uma pequena vocalização que comunica muitos afetos e provoca grandes impactos profissionais na medicina contemporânea. Não deixa de representar um alívio ético.

Sob o aspecto prático, o momento do consentimento inclui o valor de ajustes redutores de tensões e certa predisposição para a adesão do paciente no decorrer das realizações. Por isso, a adjetivação em livre – para desejar ou não- e esclarecido – sobre necessidades de momento e subsequentes.

Pela importância dos ajustes, é essencial que o profissional da saúde e o médico em especial esteja bem consciente que não detém a posse, aplica tecnociência e que seja bem treinado em comunicação perante excessos de vulnerabilidade e adversidades atuais e vindouras.

Certamente, é impossível nos lembrarmos de nossas posturas pré-profissionais, há uma lavagem cerebral após a entrada na faculdade que nos insere no profissionalismo deixando o leigo para trás. Ajudaria muito se pudéssemos lembrar, mas a dificuldade só acentua o valor de praticar certas estratégias de persuasão isentas, evidentemente, de intenções coercitivas, mas entendendo que adiantar o pé um pouquinho (o médico) impede que feche a porta (o paciente) e permite o diálogo motivador. O paternalismo brando assim entende sem nenhuma desrespeito à autonomia.

A verbalização empática e o uso de recursos de apoio fazem diferença na recepção pelo paciente e, ipsu fato, na sua resposta. Ponto fundamental, é que a rotina para o médico costuma ser novidade para o paciente e gera natural dificuldade de absorver aspectos óbvios para quem é profissional da saúde. O foco dirigido para um leigo reduz a chance da transformação da beira do leito numa torre de Babel, causa não incomum de representações éticas e legais contra o médico e perfeitamente evitáveis pelo treinamento e pela disposição de entender que pacientes constituem comunidades de interpretação necessitadas do desejo do médico de alinhar com o desejo do paciente na medida do possível.

Há uma linha traçada entre paciente-familiar-profissional da saúde que não é lado do triângulo paciente-familiar- profissional da saúde. Refiro-me à bissetriz – Triano segmento de reta que divide o ângulo do triângulo em duas partes iguais e vai até o lado oposto.

A  Bioética da Beira do leito entende que a bissetriz simboliza uma simetria e assim o valor dos ajustes da recomendação do médico atendendo ao que for possível partindo de paciente e de familiar. A bissetriz representa fio condutor do ângulo de visão do médico para  tocar com a harmonia possível a conexão paciente-familiar representada no lado oposto. Lado oposto na figura geométrica, mas ao lado na figura humana da beira do leito.

A Bioética da Beira do leito recomenda 10 dicas para o profissional da saúde a respeito do efeito bissetriz visando ao consentimento do paciente:

  1. Conscientizar-se do valor moral do consentiemnto livre e esclarecido;
  2. Distinguir desejo do paciente de necessidade médica de diagnóstico, tratamento ou prevenção;
  3. Admitir legitimidade em visões distintas sobre benefícios cogitados e adversidades possíveis;
  4. Adequar local e tempo para as interlocuções;
  5. Valorizar a influência das emoções sobre a recepção de dados e fatos;
  6. Empenhar-se pela efetiva realização do esclarecimento e renovar estratégias conforme necessário;
  7. Reconhecer fatores individuais do paciente passíveis de âncora para fundear compreensão e adesão;
  8. Ouvir-se criticamente falar nos esclarecimentos (evitar termos muito técnicos);
  9. Vigiar-se como ouve (evitar distrair-se com antecipação de réplicas) no diálogo com paciente/familiar;
  10. Assegurar comprometimento com qualquer natureza de acolhimento evolutivo.

COMPARTILHE JÁ

Compartilhar no Facebook
Compartilhar no Twitter
Compartilhar no LinkedIn
Compartilhar no Telegram
Compartilhar no WhatsApp
Compartilhar no E-mail

COMENTÁRIOS

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

POSTS SIMILARES

fev0 Posts
mar0 Posts
abr0 Posts
maio0 Posts
jun0 Posts
jul0 Posts
ago0 Posts
set0 Posts
out0 Posts
nov0 Posts
dez0 Posts
jan0 Posts
fev0 Posts
mar0 Posts
abr0 Posts
maio0 Posts
jun0 Posts
jul0 Posts
ago0 Posts

fev0 Posts
mar0 Posts
abr0 Posts
maio0 Posts
jun0 Posts
jul0 Posts
ago0 Posts
set0 Posts
out0 Posts
nov0 Posts
dez0 Posts
jan0 Posts
fev0 Posts
mar0 Posts
abr0 Posts
maio0 Posts
jun0 Posts
jul0 Posts
ago0 Posts