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951- So…mente uma mentira (Parte 5)

A Bioética da Beira do leito alerta que a possibilidade da ocorrência de ambas formas de não verdade- mentirosa ou desatenta- requer do profissional da saúde certa precaução na aplicação de dados da anamnese em algortimos. A experiência lapida a percepção de realidades ocultadas.

Observa-se certa tendência ao desenvolvimento de uma sensibilidade dos profissionais da saúde para indícios de não verdade desde a linguagem verbal e não verbal do paciente, afinal o profissionalismo de fato comprometido faz instalar câmeras mentais de vigilância 360° para evitação de percursos mal orientados.

A Bioética da Beira do leito enfatiza o valor da autenticidade de fatos e de dados para legitimar as trilhas diagnósticas, terapêuticas e preventivas e fazê-las salvaguardas da má-prática involuntária e seus decorrentes maus desfechos clínicos e potencial de assentar o profissional da saúde numa montanha-russa emocional.

Cabe então enfatizar: impactos indevidos na conexão com o médico ocorrem por palavras desviantes pronunciadas -ou retidas- pelo paciente. A Bioetica da Beira do leito é pragmática: há duas categorias de profissionais da saúde: os que já foram vítimas de inverdades na anamnese e os que ainda serão. E também realista: a anamnese indutora de equívocos e desperdícios associa-se a chance de prejuízos para o paciente a serem creditados na conta (anti)ética do profissional da saúde.

Não há porque considerar o sentido de perjúrio de paciente na beira do leito e várias atitudes profissionais podem resultar após a precepção de inverdade: fechar os olhos para a violência doméstica porque o médico não é um investigador policial e percebe que o paciente não deseja a denúncia; simplesmente documentar que se trata de prenhez ectópica e tomar as providências necessárias esquecendo a parte inverídica da anamnese que perde a importância após o diagnóstico; usar a vivência clínica para decidir se deve insistir no esquema terapêutico ou, então, aplicar um novo com pior relação entre beneficência/maleficência.

A situação do paciente assintomático traz uma conotação ética interessante. Caso o paciente não esteja mentindo, ele acredita, de fato, estar sem sintomas, uma eventual revelação de comprometimento funcional por exames complementares deve ser informada de uma maneira que, em nome da dignidade humana, não desdiga o paciente, mas explique sua percepção incompleta. Fio1Faz parte da inclusão do acolhimento humano na arte de aplicar a ciência na beira do leito.

Desconfianças pontuais numa relação humana tão sensível como a que se dá entre paciente e profissional da saúde são inevitáveis. A conexão verbal médico-paciente, entretanto, é fio condutor que precisa ser judiciosamente preservado, a linha de Ariadne que  possibilita encontrar a saída dos muitos labirintos da beira do leito contemporâneo.

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