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920- Caloroso iceberg (Parte 1)

Sim é Sim! Não é Não! São expressões do consentimento individual que devem ser respeitados pelo outro. A Bioética da Beira do leito  interessa-se por suas significações morais, éticas e legais na conexão médico-paciente do pensar e atuar com liberdade sobre diagnóstico, tratamento e prognóstico. Sim NaõSim Naõ

Bioamigo, Sim doutor ou Não doutor a respeito do que exatamente, considerando que cada atendimento inclui vários aspectos com níveis distintos de complexidade?

Bioamigo, vamos mentalizar uma recomendação médica relativamente simples, a prescrição de antibiótico para uma infecção bem documentada e com orientação do antibiograma para um paciente num  pós-operatório, ainda hospitalizado devido à intercorrência na via de acesso.

A possibilidade genérica de infecção pós-operatória consta do termo de consentimento livre e esclarecido fornecido pela equipe médica e assinado pelo paciente. Por enquanto, o registro é tão somente uma memória armazenada. Há uma realidade evolutiva que necessita ser alvo de uma conduta farmacológica nada incomum, indesejada antes por todos e agora a ser desejada.  Caso a antibioticoterapia irrealizada, a medicina voltaria cerca de um século.

Recorde-se que ter uma solução para as feridas infectadas dos soldados foi o motivo do oficial médico inglês e Alexander Fleming (1881-1955) interessar-se pelo estudo da bactéria Staphylococcus aureus ao retornar a Londres após a primeira grande guerra e que culminou com a descoberta do primeiro antibiótico.  Na década de 40 do século passado, a penicilina era uma realidade terapêutica e a antibioticoterapia ampliou-se em poucas décadas dando excepcional avanço para a medicina assistencial.

A exigência conceitual por um recurso na sua carência, agora perante relativa abundância de antibióticos, ganhou uma exigência prática do consentimento. A Bioética facilita a explicação. Benefícios de métodos inovadores preenchem as lacunas do niilismo, malefícios vêm de contrapeso e a condição humana reage com uma individualidade. O trio pioneiro penicilina/estreptomicina/cloranfenicol  protagonizou uma expressão realística da dualidade bem/mal de um fármaco. Neste contexto de iatrogenia, a Bioética da Beira do leito entende que o pensamento da escritora Simone Weil (1909-1943) é ajustável com as devidas ressalvas à conexão médico-paciente:  Um mal quando em nosso poder não é sentido com um mal, mas como uma necessidade, ou até mesmo como um dever.

Na situação clínica em questão, a intercorrência infecciosa requeria que houvesse o mínimo de obstáculos do paciente para sua debelação, tanto em relação à compreensão da ocorrência sucedente a um ato operatório necessário, quanto à aplicação terapêutica. Que houvesse tanto o consentimento para a prescrição quanto para um conformismo com a infecção hospitalar que é difícil ser totalmente eliminada de ambientes de atenção à saúde.

O clima emocional na beira do leito em  decorrência da adversidade tornou-se aquele de sol entre nuvens, sujeito a chuvas e trovoadas, embora nada fosse verbalmente explícito pelo paciente frustrado e ansioso pelas providências reversoras. Reações mais racionais e conformistas e mais emocionais e recriminadoras distribuiam-se entre os familiares.

Poderia ser resumido que uma posição médica de que faz parte estava sob distintos olhares. O emocional de o médico não se aprofundou nas explicações sobre a possibilidade de infecção hospitalar quando recomendou a cirurgia versus o racional de que ninguém hoje em dia desconhece a possibilidade de uma adversidade quando se submete a um procedimento invasivo.

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