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869- Linguagem e Bioética (Parte 2)

A Bioética da Beira do leito entende pedagógico o seguinte sequenciamento de pensamentos para o jovem médico em treinamento sobre esclarecimento ao paciente com objetivo do consentimento:

1- Eu era leigo;
2- Aprendi a recomendar;
3- Recomendo para um leigo;
4- O paciente é um eu mesmo pré-profissional;
5-  Esclarecê-lo é reproduzir o desenvolvimento do aprendizado;
6- Suas dificuldades de compreensão terão analogia com as minhas reações e serão maiores pela carência das “matérias básicas”;
7- A orientação pela linguagem reproduzirá para o paciente como deixei de ser leigo.

Trata-se de uma atenção de solidariedade que ajuda o exercício da tolerância, duas virtudes ligadas à linguagem e que são imprescindíveis numa noção de ecossistema.

Os referenciais do médico com a medicina e do paciente consigo mesmo têm o potencial de provocar níveis distintos de realidade e por isso, a linguagem tem valor para o alinhamento de categorizações sobre benefícios e malefícios e suas eventuais revisões no decorrer dos atendimentos.

A conexão médico-paciente na melhor acepção ética proporciona um desenvolvimento da linguagem pela intercomunicação de ambos. Objeção de consciência, obstinação terapêutica e paternalismo forte, um trio a ser evitado, ilustram como a falta da linguagem impacta negativamente num ecossistema como da beira do leito.

Aspecto interessante realçado pela Bioética da Beira do leito é a analogia entre a Emergência que cassa o direito à autonomia pelo paciente- um acidente com choque hemorrágico, por exemplo- e a premência do cuidado, por exemplo, numa dor forte. O paciente tem o direito (liberdade teórica) de recusar um analgésico mais potente justificado por um efeito desagradável prévio, mas sua vontade de aguardar fica sujeita a limites pelo sofrimento (não-liberdade prática).

Por isso, a necessidade do diálogo, do intuito de compreender o comportamento aparentemente injustificável, na busca de ajustes. Em outras palavras, a individualidade coexiste com muitas relações, justificando “… desvios destas diretrizes podem ser apropriadas em certas circunstâncias…”. A autonomia do sujeito faz com que o previsto para o paciente virtual “generalizado” só tenha valor social quando aplicado a um paciente-real com direito à autodeterminação. schopenhauer.jpg

Recentemente, uma rápida mudança de postura sobre teleconsulta ilustrou como a conexão médico-paciente precisa estar sob constante feedback social mediado pela linguagem. permitindo outros significados sempre tendo a liberdade como pano de fundo. Flexibilidades têm seus espaços e suas tensões com a rigidez  beneficiam-se da abertura ao desconhecido e da tolerância a contraposições. É sempre oportuna a menção a Arthur Schopenhauer (1788-1860): Toda verdade passa por três estágios, primeiro é ridicularizada, depois é violentamente oposta e por fim aceita como auto-evidente.

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