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646- Não-medicina necessária para a boa medicina?

“… Se eu me interessasse por física quântica não teria feito vestibular para medicina…”, disse-me o residente de medicina pretendendo sumariamente cortar qualquer prosseguimento na pergunta que lhe fizera sobre a relação da física com medicina, ansioso que se sentia para discutir o caso clínico, ele não estava diante de micropartículas. Resolvi insistir recuando para a física clássica, que ela explicava o estetoscópio, o termômetro, a contribuição da percussão, o alívio da dispneia de decúbito pelo sentar-se na cama, para não falar nos exames de imagem. Não entusiasmou. Havia um laudo ecocardiográfico que dominava a preocupação do jovem médico, uma urgência na mente que impedia qualquer divagação daquela natureza.

Os seis anos de faculdade de medicina encolhem o interesse pela amplidão dos saberes acumulados pelo Homo sapiens. O currículo precisa de limites e especialistas ajustam aos objetivos profissionais principais. O autodidatismo nas incríveis cerca de 50 000 horas entre o vestibular e a formatura fica restringido, por mais que haja capacitação individual para se beneficiar de um tempo qualitativo expansor de saberes técnicos e científicos.

Uma missão da Bioética da Beira do leito é conceber estratégias didáticas para salpicar no jovem médico interesses sobre noções do que ele não aprendeu na faculdade de medicina porque não foi ensinado. Borrifos sequentes de comunicação, informática, direito, engenharia hospitalar, administração, etc.., etc… Também de física quântica.

A vivência de cinco décadas alerta-me que aulas teóricas têm pouca eficácia, no máximo servem para fornecer uma moldura, dar certo enquadramento. O ideal é mostrar um efeito imediato da não-medicina sobre a circunstância da conexão médico-paciente, algo que contribua explicitamente para uma conduta clínica mais exitosa, para uma atitude mais apreciada. Em suma, praticidade.

Partir de casos reais é uma fórmula desejável. Para tal é preciso que o intercessor esteja na beira do leito para o salpique. Razão para entender que o termo bioeticista não deve ser reforçado, assim como nunca ocorreu um puro deontólogo à disposição.

Em outras palavras, a Bioética necessita ser capilarizada entre o que é biótico no ecossistema da Beira do leito. Será a Bioética de todos nós que associa valores próprios e tudo o que possa ser apreendido do próximo como benéfico/não malefício, seja lá que saber, ideia ou pensamento detenha.

A Bioética da Beira do leito esforça-se, então, por distribuir noções sobre não-medicina pelos meandros da medicina, em meio ao cotidiano da beira do leito e tem o mitológico Aquiles como figura de referência. A Bioética da Beira do leito entende que o mergulho do jovem médico na medicina ocorre segurando-se por um calcanhar que pode representar o conjunto da não-medicina imprescindível para a boa medicina. O desafio é conseguir que a imersão na medicina não o deixe de fora. Como? Esperamos que o bioamigo possa aplicar a sua inteligência natural e contribuir com belas sugestões.

Não podemos esquecer que o robô de branco tem calcanhar também e talvez possa ser programado para uma imersão sem necessidade de deixá-lo de fora. Lembremos que o Art. 51 do Código de Ética Médica vigente É vedado ao médico praticar concorrência desleal com outro médico não deverá valer para o robô de branco.

 

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