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476- Princípios têm obrigatoriamente finais?

Exercer a Medicina fica mais complexo à medida que o tempo passa, as disponibilidades de métodos avançam célere e a sociedade fica mais informada.  O médico aprende cedo que os fundamentos tecnocientíficos das condutas clínicas que aprende como aluno de uma Faculdade de Medicina não são imutáveis e que ele deverá ser um estudante eterno. Atualizar-se é preciso, sempre!

Se esta concepção sobre ciência é essencial, devemos encarar o outro alicerce da conduta clínica – atitude- de modo semelhante, constantemente sujeito ao provisório? A história diz que sim, a relação médico-paciente modificou-se nas últimas décadas.

O que acontece é que enquanto a Medicina explode após séculos de trevas tecnocientíficas provocando uma curiosidade diuturna do médico pela novidade, uma forte expectativa que logo haverá alguma diferença no modo como hoje é realizado, a Bioética é jovem, desconhecida, ganha adeptos com lentidão, conflita habitualmente com expressões do caráter/personalidade/temperamento de médicos. A inovação em Medicina é unanimidade de crença, a Bioética luta por seu espaço, oferecendo uma expertise ainda pouco valorizada.

Já mencionei em outros artigos que o médico na verdade pratica muito da Bioética sem perceber quando, por exemplo, faz um raciocínio clínico sobre prognóstico e analisa os benefícios e os malefícios de opções de conduta.    É perfeitamente explicável, porque os princípios da Bioética não nasceram como uma teoria nunca cogitada,  eles são constatações do mundo real organizadas visando facilitar a evitação de agentes de males como imprudência,  negligência e indignidade.

Neste contexto, cabe a questão: Os princípios da Bioética são eternos? Modificações não amadureceram pela baixa massa crítica, porque a Bioética está ainda na luta pela sustentabilidade, pela legitimidade, pelo reconhecimento da autenticidade, o que impede ajustes? Parece-me que são justificativas válidas, até porque outras modalidades de enxergar a Bioética já aconteceram nesta transição do século XX para o século XXI.

Mas, o certo é que as divergências com a chamada Bioética principialista não motivaram mudanças essenciais na forma clássica dos princípios. Na prática, ou eles são usados como referências de  sistematização de raciocínios ou são ignorados.

Os princípios da Bioética são ferramentas úteis para o cumprimento de deveres do médico como falar a verdade, esclarecer sobre benefícios e malefícios da aplicação dos métodos. Ademais, alerta para os conflitos entre preferências profissionais e do leigo, sua individualização caso a caso.

A história da beira do leito indica que os Princípios não devem manter-se eternos como uma ramificação admissível da Bioética. As profundas mudanças que estão chegando nomeadas como Medicina de precisão, Medicina personalizada, big data, inteligência cognitiva, etc… serão testes diuturnos sobre a utilidade dos Princípios da Bioética.

A Bioética rejeita a monotonia, assim, todos os dias é dia de atenção, expectativas, crítica e aprendizado sobre a efetividade da aplicação dos Princípios da Bioética na beira do leito. Por enquanto, seguem úteis e eficazes.

 

 

 

 

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