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408- A conquista da beira do leito pela Bioética (parte 4)

Um dos pontos cruciais da comunicação médico-paciente é o esclarecimento sobre a relação benefício/adversidade por ocasião da proposição do uso de um método diagnóstico, terapêutico ou preventivo. Deseja-se o efeito vantajoso mas não se está livre de da ocorrência de alguma adversidade evolutiva. Em tese, inexiste iatrogenia zero. Até porque, consequências podem acontecer tempos depois da administração de utilidade imediata.

A beira do leito testemunha três tipos de adversidades cogitáveis na aplicação com intuito benéfico: 1- a prevista como acontecimento inevitável e, assim, mais concreta no processo de consentimento do paciente; 2- a prevista com graus distintos de potencialidade estatística e, desta maneira, com impactos mais personalistas no processo de consentimento do paciente; 3- a imprevista e que traz a obscuridade do aleatório, algo como após o uso devemos estar atentos para qualquer eventualidade. Se as duas primeiras apresentam espectro mais contido de ocorrências, a terceira admite uma amplidão de eventos correlacionáveis com o passar do tempo.

 

QuadroBA

A Bioética da Beira do leito entende que as evidências científicas acumuladas em pesquisas, metanálises e registros constituem saber exigente de uma aplicação com sabedoria profissional, o que significa um olho no conhecimento técnico-científico e um olho na condição humana. Pois, a coletânea das experiências hoje universalizadas na chamada literatura médica temperada pela vivência médica pessoal diz o que o método é – a atualidade do conhecimento- e as preferências, desejos, valores e objetivos do paciente dizem o que se pretende que um método seja. A idealidade da estrita superposição de vontades no âmbito da conexão médico-paciente não costuma habitar a beira do leito.

Observam-se infinitas combinações de atitudes mais e menos propensas ao uso de algum método da Medicina na dualidade médico e paciente que constituem fator de atenção da Bioética da Beira do leito para a possibilidade do abuso, quer do excesso prescritivo -que inclui obstinação terapêutica e tecnolatria-, quer a hipocondria que exige fármacos e a síndrome de Munchausen (Richard Asher, 1912-1969) que  persegue intervenções.

No quadro, a opção colorida em cinza é a que exige maior análise profissional e diálogo esclarecedor entre médico e paciente em virtude da associação da conveniência de um benefício que tende a se concretizar e da inconveniência da alta probabilidade de adversidade ligada à morbidade inquietante. Comumente, a intensidade dos sintomas e da influência na qualidade de vida e a associação a mau prognóstico da evolução natural no curto prazo são elementos capitais no processo de consentimento pelo paciente nesta situação de alcance do bem com provocação de males.

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