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1439- Questões de temperatura na conexão médico-paciente (Parte 23)

O compromisso moral do médico com a irrevocabilidade do passado significa respeitar o tempo que o separa do momento em que ele passa a ser alvo de eventuais questionamentos. O prontuário do paciente é um representante da autenticidade do passado, sempre disponível para ser convocado como testemunha de defesa da verdade. Como delegado do CREMESP aprendi que o que consta do prontuário do paciente “foi feito” e o que não consta “não foi feito”. Observei cirurgiões que não podiam demonstrar o perfeito cumprimento dos tempos cirúrgicos porque haviam se “esquecido” de descrever o ato operatório no prontuário do paciente. A possibilidade de razão sobre os acontecimentos ficava prejudicada pela carência da história dos acontecimentos.          

O Poder das redes sociais traz uma face onde há um quê de banalização a respeito de Quem alguém é para o outro. Na beira do leito, o médico para o paciente. O potencial de danos profissionais desta face desafia o valor do atavismo dos médicos como filhos universais de Hipócrates, o Pai da medicina. O potencial de ameaças ao profissionalismo ético, por exemplo, uma rigidez de médico gera fatos e o paciente gera opiniões com suas conotações legais distintas, não pode ser desconsiderado e serve de alerta para estimular discussões transdisciplinares sobre necessidades de ajustes na compreensão de significados na conexão médico-paciente. Alerta para Alô Bioética!

Já o Poder da imprensa, chamado de quarto poder, influência da notícia na opinião pública, insere-se na beira do leito com distintos impactos, desde a colaboração para a promoção da saúde da população, orientações em situações específicas até como etiopatogenia da  preocupação do médico quanto a críticas pessoais a um exercício assistencial e que, neste segmento, pode ser sintetizada em Jornalismo é publicar aquilo que alguém não quer que se publique, frase atribuída de modo incerto a William Randolph Hearst (1863-1951).

Uma coisa é o médico aparecer na mídia convidado por sua capacidade profissional para contribuir para o bem da sociedade, outra coisa é um médico ser exposto na mídia independente da sua vontade, como um incapaz profissional, agente de um mal para a sociedade. Evidentemente, não se noticia, habitualmente, o bom atendimento médico ao paciente, é o que se espera como padrão, mas o não cumprimento – presuntivo ou real- deste dever profissional gera reportagens com manchetes pomposas.

A Bioética da Beira do leito ao mesmo tempo que enaltece a liberdade de imprensa, a relevante intermediação das relações sociais por meios de comunicação do jornalismo, inquieta-se na possibilidade de fragmentações da informação sobre o comportamento de um médico e que inclui a falta da continuidade em dias subsequentes que dificulta uma noção de conjunto e evolutiva. O efeito negativo é que as lacunas sobre o caso, aquilo que paradoxalmente fica no ar sem vir ao ar na imprensa falada, têm o potencial de serem preenchidas por analogias e imaginação de toda sorte capazes de desproporções que afetam a imagem do médico perante a sociedade.

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