Em tempos de exaltação da contribuição da inteligência artificial/aprendizado de máquina para a excelência da medicina, a Bioética da Beira do leito motiva-se a alertar para a inconveniência de qualquer intenção de crítica desvalorazadora da inteligência natural, vale dizer, jamais esquecer que interações cérebro humano-cérebro humano fundamentaram tudo que a humanidade conquistou e desenvolveu, inclusive as tecnologias, até mesmo, ironicamente, o “cérebro eletrônico”.
No campo da comunicação médico-paciente, por exemplo, o direito do paciente ao princípio da autonomia, lhe permite selecionar mentalmente em seu cérebro uma resposta e emitir direcionado para recepção pelo cérebro do médico propositor através de símbolos por movimentos corporais, de natureza vocal ou não, comunicando consentimento ou desconsentimento.
A Bioética da Beira do leito, apegada ao DNA pró-pontes, contra muros, irremediavelmente esperançosa e otimista, preocupa-se com tendências a um cisma, a desequilíbrios nos laços entre natureza e cultura, a crises de confiança, com cunho pragmático, representadas pela super consideração de dispositivos e serviços que utilizam microchips, softwares, internet, “nuvens” e algoritmos que nascem prontos com refinamento, “milagres tecnológicos” enfim, como rivais abióticos com vieses bióticos vantajosos em relação ao cérebro humano de neurônios e sinapses geradas a partir da junção de um espermatozoide e um óvulo, o “milagre da vida”.
A Bioética da Beira do leito entende que é valido injetar no cotidiano informações históricas que contribuam para fomentar segurança e preservar a distinção dos cérebros humanos quer nas interfaces tradicionais tão somente naturais, quer nas com os emergentes “cérebros artificiais”. Uma difusão consciente para evitar confusão sobre a fusão.
Ponto de referência inquestionável da eficiência, flexibilidade e produtividade do cérebro humano, Paris, 1816: Uma gestante próxima do momento do parto, um médico necessitado de avaliar sua cardiopatia e com dificuldade do exame transcutâneo do coração, ouvido no peito, pela falta de uma “janela auscultatória” por interferência das mamas. Assim deu-se mais uma oportunidade para a necessidade renovar-se mãe da invenção.