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1265- Solidariedade no ecossistema da beira do leito (Parte 2)

A contribuição da Bioética para a atenção às necessidades de saúde do ser humano passa pela forma com a sucessão de gerações reproduz a solidariedade. Representa a preocupação profissional primária que é almejada pre-profissionalmente, cresce após o ingresso na faculdade e se delineia integralmente após o recebimento do número do CRM e todo seu simbolismo moral e ético. É herança comportamental que constou nos sonhos pioneiros de Hipócrates (460 aC- 370 aC), Paul Max Fritz Jahr (1895-1953) e van Renssalaer Potter (1911-2001).

Mas bioamigo, o que é exatamente solidariedade? Admite uma sinonímia com simpatia, cooperação, altruísmo, caridade? Ou estes termos não cabem para expressar solidariedade na preservação da saúde e na atenção à doença?

Uma definição de solidariedade ao gosto da Bioética é o comprometimento com o outro em quem reconhece similaridades. Compreende um ato concreto, não tão somente uma expressão de simpatia, admite dar uma parte de si – um custo de tempo por exemplo-, não apenas cooperação e um grau de identificação com o outro, não se trata de altruísmo ou caridade, quando, então predominariam diferenças entre as duas partes. Vale afirmar que é solidário quem manifesta um sentido de dedicação com necessidade pelo ato tanto quanto o outro, justa interconexão.

A solidariedade inclui-se nas fundamentações sobre bom uso e evitação de abuso na interligação ciência e ser humano dos princípios da beneficência, não maleficência, autonomia e justiça da Bioética. Relaciona-se à distinção entre fazer ciência pela ciência e interessar-se pelas ciências da saúde pretendendo contribuir para prover bem estar, boa qualidade de vida e sobrevida ao ser humano. Enfatizando, um ato concreto com reconhecimento de similaridades de objetivos, os deveres do profissional da saúde aplicam-se aos sues próprios direitos de cidadão.

De modo simplista, o exercício da solidariedade se faz presente quase de maneira não reconhecida como tal para superar as naturais dificuldades de integração do quarteto de princípios em cada (a)caso da beira do leito. Focando no paciente, pode-se conjecturar que as conexões beneficência/não maleficência/autonomia que ocorrem numa dimensão calidoscópica têm mais chances de resultarem prejudicadas quando a insuficiência de solidariedade deixa atuantes barreiras para a captação do que o paciente sente, pensa, deseja.

Em outras palavras, a solidariedade coopera para evitar uma injustiça ao paciente do tipo testemunhal/anamnéstica do que ele tem a dizer sobre si próprio. Por outro lado, desvios de interpretação podem ocorrer entre uma manifestação em termos leigos e o encaixe translacional pelo médico no contexto da ciência (re)conhecida, ou seja, o potencial de configuração de uma injustiça interpretativa, o que também pode ser minimizada pela solidariedade que abraça uma justiça desejável.

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