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1181- Educação na beira do leito e Bioética (Parte 1)

Bioamigo, como é que o médico – e o profissional da saúde em geral- deve ser/estar/ficar profissionalmente educado na atualidade de tanta complexidade tecnocientífica e humana? É dúvida que admite o pensamento de Bertrand Russell (1872-1970): Penso que devemos sempre ter alguma dúvida quando emitimos opinião; não desejaria ninguém crendo dogmaticamente numa filosofia, nem mesmo na minha.

Não faltam na literatura especializada modelos pedagógicos. A diversidade observada indica a ausência de consenso afirmativo acerca de um deles. Na minha carreira docente me envolvi com alguns deles e nenhum, de fato, mostrou-se irrepreensível. Entretanto, podemos reconhecer um proveito profissionalizante comum às variações, aliás, imaculável: o face a face com o paciente, pois, bioamigo, a dualidade saúde/doença provoca significados individuais. É interdependência humana de natureza adaptativa que se afigura imprescindível para subsidiar a retenção de conhecimentos, estender habilidades e distinguir a responsabilidade pelas atitudes.

O valor do frente a frente humano é o que Hipócrates (460 a.C- 370 a.C) intuiu ao considerar o mundo real e motivou direcionar a medicina para a prestação de serviço de um ser humano com certas habilidades para outro ser humano que necessita preservar sua identidade pessoal às custas de um bem-estar. Há 26 séculos, uma grandeza de ideação que justifica a imortalidade do Pai da Medicina.

Numa conexão médico-paciente, bioamigo, há uma via de duas mãos de direção. A duplicidade possibilita alternâncias entre um no papel de aprendiz e outro no de mestre. Ambos, médico e paciente, são transformadores de experiências. Eles devem estar dispostos a educar e ser educados, pois interdependem da informação dada/captada pelo outro a fim de melhor utilização dos meios clínicos e científicos e obtenção de resultados humanos. Um eu e tu sempre nós.

Em sua formação universitária, o médico disseca um corpo humano, observa um tecido humano ao microscópio, recolhe dados da anamnese e sinais clínicos, etc…etc…, ou seja, desde cedo percebe que se constitui num agente dinâmico entre medicina e um ser humano num ecossistema complexo representado pela beira do leito.

Uma concepção de paciente ideal é rapidamente metamorfoseada para a pluralidade de apresentações, inclusive, num mesmo paciente ao longo dos atendimentos. A busca pelo equilíbrio entre medicina, médico e paciente é objetivo enfatizado pela Bioética da Beira do leito. Vale o alerta irônico de Rachel Naomi Remen (nascida em 1938), em seu livro O Paciente como Ser Humano, Summus Editorial. A autora adverte que pressões pessoais e da sociedade criam uma expectativa irreal sobre “bom paciente”. A Bioética da Beira do leito endossa e entende que paciente não se adjetiva, ele é essencialmente substantivo, uma realidade por si.

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