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42-Herrar é umano

herrarA prudência é instrumento da Ética que auxilia o médico a praticar a Medicina com segurança para o paciente.  O médico prudente  trabalha com conceitos e padronizações que facilitam atender à necessidade de Saúde com o máximo de benefício e o mínimo de malefício.

A prudência como virtude é a preocupação com o futuro, que ro bem próximo, quer o longínquo. A preocupação do médico é com o futuro do paciente. O ser humano comete erros, logo o médico não está isento de cometê-los. Não errar, não causar dano pelo erro, não prejudicar o prognóstico é desejo comum. Ser competente e estar cuidadoso não vacinam, todavia, contra herrar é umano.

Considerando que  a segurança do ato médico é direito do paciente e dever do médico e, embora não desconsiderando que há fatores que não pessoais do médico envolvidos, bom número de elos  da cadeia de segurança passa pelo ser médico.

Listo a seguir 10 conhecimentos que favorecem o futuro do paciente sob cuidados por contribuir para evitar danos na condução do processo de diagnóstico e de tratamento.

1-      VALOR DA SEGURANÇA

O médico que está sempre ligado em processos mentais e operacionais de segurança para o paciente vale como aqueles batedores de motocicleta que vão abrindo caminho seguro. A hierarquização da segurança é eficaz em cinco aspectos essenciais:

  • Evita-se que o paciente sofra erros evitáveis.
  • Acelera  a recuperação do paciente.
  • Melhor entendimento da estratégia de cuidados pelo paciente
  • Mais chance de o paciente ficar satisfeito com os cuidados
  • Eleva a satisfação profissional

”… O senhor tem alergia a este medicamento que pretendo lhe prescrever?” é exemplo da simplicidade com que graves efeitos- como edema de glote- podem ser evitados seguindo um ritual de preservação da segurança.

2- EVENTO ADVERSO

Dano causado pela conduta médica e não pela circunstância clínica do paciente.

É sabido que métodos diagnósticos e terapêuticos podem provocar evento adverso, mesmo em situações ideais de prudência e de zelo.

A ciência do risco de evento adverso pelo paciente faz-se necessária, pois o paciente tem o direito de participar ativamente da condução de seu caso e de consentir ou não consentir com o proposto em função da sua opinião sobre as adversidades possíveis.  Ou seja, no caso, o paciente  arrisca-se ao não evitável ou não se expõe à possibilidade.

3-      EVENTO ADVERSO INEVITÁVEL

Dano causado pelo potencial de adversidade do método corretamente utilizado na conduta médica.

Pode estar ligado tanto a efeito  intrínseco do método- inalação de bronco dilatador beta-agonista e episódio de taquicardia em paciente sem cardiopatia-, como a impacto do método sobre circunstância daquele paciente- uso de antagonista colinérgico provocando crise aguda de glaucoma.

4- EVENTO ADVERSO EVITÁVEL

Aquele causado por erro profissional. Há a situação de falha no processo de segurança- como em casos de contaminação bacteriana- e há a situação da não aplicação de método redutor de adversidade-  não uso prévio de hidratação e de N-acetilcisteina para reduzir o risco de insuficiência renal pós-uso de radioconstraste iodado.

5- ERRO DE DIAGNÓSTICO
  • Equívoco no firmar o diagnóstico
  • Atraso indevido no diagnóstico
  • Falha na condução de etapas de diagnóstico

O processo de diagnóstico pode ser muito simples quando elementos clínicos habitualmente identificáveis pelos órgãos dos sentidos do médico e alguns exames de fácil realização e pronto resultado permitem o que se pode chamar de certeza diagnóstica. Mas, nem sempre há a possibilidade da presteza do diagnóstico. Um período de tempo pode ser necessário, variável de acordo com a circunstância clínica, com a observação da evolução e com as disponibilidades e qualidade de exames complementares. O comprometimento do médico em qualificar o diagnóstico é fator de segurança para a evitação deste tipo de erro profissional. Não pode ser ignorado, contudo, que é importante esclarecer ao paciente/familiar sobre como colaborar cumprindo etapas e dando feedbacks necessários.

6- ERRO DE TRATAMENTO
  • No manejo de procedimento invasivo
  • Na administração da conduta indicada
  • Na prescrição de fármaco
  • Atraso na programação após o diagnóstico
  • Uso de método não indicado

A estratégia do tratamento inclui a seleção de métodos e a aplicação dos mesmos em simultaneidade ou em complementaridade. Ela demanda um componente da experiência do médico e um da experiência coletiva  da literatura. Há o aspecto temporal classicamente organizado como eletivo, urgência e emergência. Há o aspecto prescritivo de fármaco, que, habitualmente, sustenta-se na concentração sanguínea de um sal indicado em face do diagnóstico,  que é dependente da dose, via de administração e do período de tempo necessário para o efeito final pretendido, muitas vezes o uso contínuo. Há os chamados tempos validados de procedimentos invasivos que devem ser respeitados e as intercorrências no desenvolvimento dos mesmos que exigem prudência e zelo no controle do inesperado.

7- ERRO DE PREVENÇÃO
  • Em profilaxia
  • No acompanhamento da conduta aplicada

É a situação mais complexa de análise, pois o fato de o risco não se tornar evento não significa necessariamente acerto na prevenção e a ocorrência do evento não representa obrigatoriamente erro na condução da prevenção.

Paciente pode não fazer uso de anticoagulante há anos, embora necessário, e nunca ter manifestado tromboembolismo. Paciente pode usar o anticoagulante corretamente e, mesmo na vigência dele desenvolve um fenômeno tromboembólico.

Há diretrizes que devem ser seguidas, mas cada caso pode merecer algum tipo de ajuste, em função de adversidades, por exemplo.

Recentemente, verificou-se que houve aumento de casos de endocardite infecciosa após a mudança do conceito de prevenção a esta grave doença. Os médicos que seguiram a nova estratégia causaram dano ao paciente que veio a apresentar a infecção cardíaca? Pode ser interpretado que eles seguiram determinações internacionais, que as velhas recomendações agora é que voltaram a ser consideradas e, portanto, eles simplesmente seguiram o estado da arte do momento.

Cada método tem suas adversidades e, portanto, acompanhar de perto a conduta aplicada, especialmente quando há risco mais elevado das mesmas é fator de segurança para o paciente. Determinado antibiótico, por exemplo, pode estar sendo altamente vantajoso no combate à infecção, mas uma vez que o acompanhamento clínico detecta rebaixamento da função renal, a dose precisa ser ajustada ou outro antibiótico deverá  ser prescrito no lugar daquele, a tempo de se obter a reversibilidade da adversidade.

8- ERRO NA COMUNICAÇÃO AO PACIENTE

Vou deixar em branco. Um dano para a expectativa da comunicação.  Cada um poderá preencher com analogias e imaginações que não necessariamente estarão no contexto que deveria  transmitir.

 

 

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