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39-Bioética-passaporte, médico sem fronteiras

medicos-sem-fronteiras
Médicos sem fronteiras
passapescaravelhoArtigo publicado na revista DOC               DOC Editora  Rio de Janeiro

Uma sincronicidade. Datada em 1971. Carl Gustav Jung (1875-1961) se interessaria. Um “escaravelho dourado” sonhado. Outro numa janela para o mundo.

Dois homens-época. O sonhador estadunidense van Rensselaer Potter (1911-2001) e o empreendedor francês Bernard Kouchner (nascido em 1939). Duas relações de significado. Benfeitorias para a Humanidade.

Potter preocupou-se com efeitos “desumanos” do progresso tecnológico em Medicina.  Publicou o livro Uma Ponte para o Futuro. Sexagenário, tornou-se Pai da Bioética.  Em 2005, a Bioética associou-se aos Direitos Humanos. Uma Declaração Universal da UNESCO.

Kouchner, três décadas mais jovem, criou os Médicos sem Fronteiras. Uma motivação de  bondade. Levou Medicina a carente por isolamento social e geográfico. A organização humanitária  mereceu o Prêmio Nobel da Paz de 1999.

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van Renssalaer Potter       (1911-2001)
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Bernard Kouchner          nascido em 1939

Não há ligação aparente na superposição temporal. Pelas láureas enxerga-se, contudo, uma matriz comum. O significado do ser médico com humanismo. O destaque para a sinergia clássico e inovação em Medicina a serviço e à disposição do vulnerável. Destaque para o acolhimento ao sofrimento. Sob vários sentidos. Com um misto de arrojo e cautela.

Ponte e sem fronteira. Facilidade e liberdade de passagem. Condições para reflexão profissional. Caminho para rearranjo de sentidos de atuações. Potência para continuidade da tradição hipocrática. Geração a geração, herança atualizada. Os rumos? Infinitos!

O médico perpassa conjunções entre o saber técnico-científico, o comportamento humano e a estrutura socioeconômica. Intersecções são extensas e profundas. Em constante reconstrução. Matéria prima da Medicina, da Moral e de circunstâncias de Estado. Dilemas e conflitos rotineiros. Obstruintes às boas conduções. Salvo-condutos são bem-vindos.  Algum a destacar?

A Bioética. É um passaporte. Dá uma identidade. Reduz atritos. Impulsiona movimentos. Traça linhas de rascunho mental. Seleciona destinos aceitáveis. Provê sentidos à pluralidade de necessidades do paciente. Em cenários mutáveis.

A Bioética-passaporte é porte forte. Facilita o tráfego por entre sucessões, superposições e colisões de dados, fatos e pensamentos. Reafirma que cada caso tem as próprias impressões digitais. Dá vida à resolução que parte da ciência e transita pela ética. Reprova a transformação simplista da Saúde em bem de mercado. Alerta para as inconveniências do maniqueísmo na translação do fundamento científico. Endossa que “verdades” da ciência reunidas em diretrizes clínicas ditam o momento do estado da arte. Adverte, no entanto, que elas não cabem como instrumentos coletivos de não liberdade para o paciente. Aceita-as como recurso para convencimento do paciente, mas afasta-as da coerção pelo médico. Indica que entendimentos de “obrigação a fazer” pelo médico – emergência à parte- não devem sobrepujar o direito do paciente ao livre-arbítrio.  Ciência em equilíbrio com a Ética.

A Bioética-passaporte reforça, pois, que não basta a vontade bem fundamentada para que o médico se sinta com liberdade de dar continuidade a uma recomendação. Ele só passa a estar livre quando o consentimento do paciente o coloca na  execução autorizada.

Os caminhos da ciência e da ética entrecruzam-se na beira do leito – como metáfora integrativa do físico das pessoas, da mente em atividade e dos produtos criados (fármacos, aparelhos, normas, etc…) no âmbito da Medicina. Conjuntura adequada ao uso da Bioética-passaporte. A aplicabilidade confere o valor. O número de inscrição do médico no CRM acresce autenticidade perante a sociedade. A conjugação com a Deontologia atapeta os rumos dos deveres profissionais.

Idas e vindas por fronteiras não faltam na beira do leito. Cruzamentos entre conhecimento, habilidade, humanismo, sistema de saúde e instituição de assistência, ensino e pesquisa. Não há cotidiano da beira do leito sem trânsito por combinações destas fronteiras.

O vai-e-vem entre o conhecimento e a habilidade exige trânsito livre. Uma via dupla. Para um lado a atualização sobre o útil e o eficaz para as doenças. Ao mesmo tempo, o trânsito da noção de que o benefício conceitual não é suficiente. Para o outro lado, o ganho da expertise na aplicação para a individualidade dos pacientes. Carregada de manobras de ajustes aos riscos de adversidades. A Bioética-passaporte viabilizando a prudência da segurança e o zelo em por em prática.

Experiências da pesquisa e da vivência assistencial. Uma roda viva de informações clínicas  e científicas marco da Medicina moderna. Aquela que é baseada em Evidências. A soma torna as probabilidades mais realísticas às incertezas da Medicina. A Bioética-passaporte dá medidas para a excelência incorporadora. Facilita redirecionamentos de conduta na beira do leito. Os provocados por tipos de morbidades, distinções de preferências e preservações de valores.

O sistema de saúde e as instituições de Saúde proporcionam infraestrutura imprescindível. Retumbam, não obstante, conflitos com prescrições da beira do leito. A Bioética-passaporte dá circulação ao diálogo que se pretende conciliatório pelas fronteiras da beira do leito com gabinetes administrativos. Realce para a alocação de recursos. Desafio capital- literalmente.

A beira do leito é campo de forças da natureza humana. Vigor para eficácia de métodos criados pelo homem e eficiência no corpo do Homo sapiens. A Bioética-passaporte azeita movimentos e contra movimentos para fins superiores de dignidade. Emergidos do direito do paciente- conquista da sociedade- de participar ativamente de decisões sobre a própria Saúde. Verbalizado na beira do leito como autonomia, consentimento livre e esclarecido. Sustentado num imperativo categórico.

Beira do leito é indispensável. Fronteira é inevitável. Bioética-passaporte é desejável. Perspectiva de fluidez com a responsabilidade da aliança de pessoas cuidando de pessoas.

 

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