Planejar bem, comunicar-se bem, acompanhar bem. É tríade de desempenho na beira do leito de alta contribuição para a evitação de mal-entendidos, insatisfações e mesmo processos derivados da relação médico-paciente.
Destaco nestas metas interligadas a interlocução médico-paciente sobre as necessidades envolvidas no atendimento. Lacunas na comunicação permitem completar com imaginação e analogias que soam para si “tão real” quanto o que deveria ter sido dito e ouvido.
A anamnese e a explicação da conduta são pilares da importância da comunicação ética. É essencial que o médico note-se como ele faz e analise como o paciente se comporta.
Especialistas em comunicação destacam um quarteto da emissão e da recepção da linguagem:
- Falar- Habitualmente, a fala do médico na anamnese deve ficar em segundo plano, centrada no estímulo à palavra espontânea do paciente e a complementações.
- Ouvir- É timing que deve ser treinado pelo médico para evitar interrupções ineficientes ou provocadas pela ansiedade de resposta ou por premência de tempo. Podemos conhecer o desenvolvimento de uma doença, mas desconhecemos o que ela faz exatamente com aquele doente a nossa frente. Podemos saber a melhor conduta, mas desconhecemos o que seria o mais aceito – e compreendido- por aquele paciente a nossa frente.
- Ouvir-nos falar- Há o econômico nas palavras, há o prolixo, há o que dá uma aula, há o que fala mais de si do que do caso, há o que não responde, não esclarece, etc…, etc… É importante ficarmos “nos ouvindo” para que nossa fala canalize-se pelo respeito, clareza e empatia.
- Ouvir-nos ouvir- É natural que uma anamnese abra um canal mental de raciocínio sobre que se está ouvindo, mas não pode provocar lapsos de escuta. Bem isolá-lo num cantinho da mente é fruto de treinamento. Assim como para a construção do esclarecimento-resposta durante a explicação da conduta. Ouvir-nos ouvir é capital para a qualidade do acolhimento a preferências e a valores do paciente pari-passu com a resolução das necessidades clínicas. A impulsividade e o egocentrismo são prejudiciais a mais eficiente captação do que o paciente deseja do médico. Não podemos esquecer-nos que as diferenças habituais entre as bases de conhecimentos numa comunicação médico-paciente têm o potencial de gerar “desligamentos” . Ora é o médico que “desliga” porque entende que o que o paciente está vocalizando não tem nada a ver com a técnico-ciência, ora é o paciente que “desliga” e ao final de nossas “caprichadas” explicações e recomendações, olho-no-olho, faz, imediatamente, uma pergunta que mostra por onde andava o foco do seu pensamento, talvez surdez para o resto: – “… doutor, posso continuar comendo chocolate?…Só um pedacinho…”
A Bioética da beira do leito colabora para a inclusão do pensamento, do relacionamento e da atuação na equação da coerência ética.