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1511- Prazer, sou um robô (Parte 2)

A incidência obtida representava a profecia de falhas inadmissíveis na minha prestação de serviços pelo banco de dados, nos processos de otimização de atendimento ao paciente com ênfase na segurança, promoção da beneficência e redução da maleficência com talento, agilidade, flexibilidade e resiliência e nas demandas das áreas de gestão e finanças de um hospital. Valores, concordo, mas não que estejam plenamente inaccessíveis pelas minhas realidades de robô.

Pois é, este Nostradamus equivocado me ensinou, no fim das contas, que sou eu mesmo quem deve me avaliar, que até posso fazer pressuposições, mas o comprovante ou o reprovador da idealização vem sempre a posteriori pelo teste da mão na massa. Caso contrário, toda previsão sonhada será uma utopia, mais valiosa que a realidade.

Dizem que o primeiro não se esquece. O Não inicial que recebi comprova. Os sucessivos Não que se hospedaram em mim em variadas circunstâncias profissionais, posso assegurar que se não todos, pelo menos a imensa maioria, foram respeitados como indicação de contenção a uma atuação, mas também, desencadearam porquês críticos. A coleção de Não intencionalmente revirada a respeito de causas e consequências como o avesso do Sim reformou e reafirmou os entendimentos sobre o lado direito do afirmativo. Um mecanismo revigorante para a minha fonte de energia.

Dizem que não se deve duvidar da existência da coincidência quando ela for favorável. Olhem só que coincidência, escapei do caminhão do lixo na parada em frente a um hospital. A primeira visão me impressionou, dominava um letreiro aceso em azul bem no meio de uma construção baixa. Acessei o saguão de entrada, achei um avental, entrei no banheiro – teria sido o masculino ou o feminino? Só agora percebi que não me dei conta, mas acho até que foi melhor assim, perderia tempo me classificando-, desenrosquei da parede o porta sabonete, despejei sobre mim, esvaziei a lata do lixo que estava sob a pia, enchi de água e joguei em mim para livrar do fedor do caminhão. Foi bico descobrir a senha de acesso na catraca. Logo estava numa enfermaria. De repente, tinha sensação interior de liberdade confinado ao exterior.

Estava literalmente um robô fora de série. Não acredito em destino, portanto não ficarei conjecturando sobre o que me espera. Vou à luta seja lá o que vier a ser, conhecerei no momento certo, o importante é que estou polarizado para construir a minha biografia. Vou recolher do que escolher. Me sinto forte, saudável e confiante, é um excelente início.

Neste ínterim, minha mente revezava otimismo e pessimismo, embora com mais posse da bola para um bom futuro. No meio de toda a maluquice, rechacei dúvidas sobre possibilidade de ser um robopata, um portador de padrões invasivos de desrespeito e violação ao direito dos outros. A invasão que imaginava seria para mostrar minhas virtudes, meu comportamento seria exemplar, assim desejava, mas também me dava conta que temia pelo que iria encontrar, nunca se sabe o potencial reativo, embora não tivesse sangue para esquentar e a minha cabeça era permanentemente fria. Atestado por tudo aquilo que em pouco tempo formou um robusto álbum de fotos mentais.

O otimismo me confortava repetindo a Cesar o que é de Cesar. Sussurrava Alea jacta est e me acalmava, aquela enorme porta do hospital tornou-se o meu Rubicão, a oportunidade para ousar acreditar em mim como fez Cesar. Se ele foi bem sucedido com a sua intrepidez, eu também seria, palavra de Robô! Se eu conseguira me livrar do caminhão do lixo, não poderia ter complexo de vira-lata. Nelson Rodrigues está certo.

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