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1111- Anjo bom, anjo mau (Parte 2)

A questão é que o paternalismo persiste mencionado sem a separação adjetivada e continua sendo visto como um anjo mau conselheiro, especialmente por quem não vivencia diretamente a beira do leito. Esta eterna sala de aula ensina que a prudência de braços dados com outras virtudes como a tolerância, a compaixão e a humildade, enfatiza o caráter indeterminado das palavras, adverte sobre a impropriedade de rótulos apriorísticos, acentua que a etiquetagem como bom conselho pode conter contaminações maléficas, faz perceber que um dito mau conselho pode conter admissibilidades, esclarece que o que seria em princípio um bom conselho pode evoluir para um mau conselho quando se ampliam a abrangência e a profundidade da questão e vice-versa. Pois é bioamigo, a essência de tudo isso foi  depreendida há cerca de 25 séculos pelo filósofo grego Eubulides de Mileto, que viveu no século IV ac, época em que parece que as ideias brotavam em geração espontânea dos neurônios cerebrais.

Tornei-me admirador deste pensador quando constatei que seu legado de quatro paradoxos se presta para certas reflexões em Bioética. Destaco aqui o paradoxo de sorites (montes em grego). Vamos lá bioamigo, fechemos nós dois os olhos e mentalizemos o termo mau, por exemplo, em relação a um  tamanho da letra no computador. Comecemos de uma letrinha praticamente invisível e vamos direcionando no sentido do termo bom. Conseguiu? Ótimo! Eu consegui aqui. Agora me diga, em que ponto o mau tamanho se tornou bom? O seu ponto pode diferir do meu. Não há uma fronteira exata quando se considera um coletivo, a não ser que alguém arbitre um valor e dê uma de Procusto, imponha um determinado padrão, faz encaixar a todo custo ( sem trocadilho) num modelo pré-determinado, o que poderia representar intolerância humana. Bioamigo, certamente você não sofre da síndrome de Procusto que se contrapõe a quem com talento tem posição contrária porque se sente inferior a eles. por isso, aprecia a Bioética.

Bioamigo, a Bioética da Beira do leito entende que a adjetivação de brando ao paternalismo na beira do leito tornou-o aceitável- obrigatório mesmo- em situações onde ocorrem dificuldades na compreensão em duas vias de direção, tanto desde as informações do médico para o paciente, quanto desde as justificativas de contraposição do paciente ao médico.

Assim, bioamigo, o que soa como do anjo dito bom e do anjo dito mau na sua mente sofre uma seleção própria ajustável às circunstâncias numa mixagem que traz uma importante conclusão: a prática do paternalismo -o brando pelo médico pode conviver com o direito à autonomia do paciente, justamente porque foi afastado da coerção e da proibição. Ajustes acontecem! O valor das tonalidades! A vagueza das palavras! A visão que poucas coisas são absolutas e a maioria admite escalas! Há o melhor pior e há o pior melhor!

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