Não se pode dizer que métodos aplicáveis em medicina estão disponíveis na exata medida de uma estrita beneficência. Eles carregam um adverso com variável potencialidade de realização. Pude conscientizar-me sobre as desconformidades terapêuticas acompanhando pacientes sob uso do diurético mercurial gortulina, do anti-hipertensivo reserpina e do cardiotônico digitoxina. Lições magistrais sobre a denominada relação risco/benefício sustentada por uma disposição recíproca ambígua entre fármaco e paciente. Trouxe uma visão integrada entre adversidade, prudência e coragem no raciocínio clínico.
Adversidade na prescrição médica contemporânea refere-se a qualquer efeito indesejado. Prudência é uma virtude, sabedoria prática para deliberar o mais corretamente, para fazer escolhas entre o que é bom e o que é mau na circunstância. Já a coragem não é ausência de medo, é prosseguir apesar dele. Menor número e intensidade de danos juntos ao benefício é objetivo relevante na beira do leito contemporânea e, assim, ele é exigente de uma mescla de prudência e de coragem- para fazer e para não fazer. No jargão médico sensível à Bioética, não maleficência é a correlata palavra de ordem na beira do leito.
A não maleficência tem origem hipocrática – Primum non nocere. Ela evoluiu da precaução do Pai da Medicina em evitar o uso de métodos duvidosos destituídos de evidências concretas de benefício e que podiam causar danos e agravamentos clínicos. Após 26 séculos, ela está revigorada como princípio da Bioética e requer um juízo crítico aguçado.
A análise avaliativa sobre adversidades em potencial atreladas à obtenção de benefícios de aplicações clinicamente validadas para as circunstâncias clínicas coleciona desafios, dilemas e conflitos. A experiência clínica enfatiza que o não da designação do princípio, na verdade, precisa ser decodificado como menos possível, ou seja, quase nunca representa isenção de potencialidade.
A beira do leito nunca esteve tão maleficente, um panorama que não significa, entretanto, anti-beneficência. É um aspecto dos filtros para a farta pluralidade de métodos validados na medicina que causam tensão prescritiva. A consideração do princípio da não maleficência alinha-se à responsabilidade profissional com a segurança biológica dos pacientes.
Função do método em si, doses e tempo de uso influenciam a manifestação de adversidades. As potencialidades precisam ser esclarecidas ao paciente. Elas podem gerar um não consentimento pelo paciente. É notório como uma leitura da bula de um medicamento devidamente prescrito pelo médico pode atemorizar o paciente a ponto de fazê-lo retornar à farmácia e trocar por alguns sabonetes e shampoos- isentos de bula. Ignorância? Sabedoria? Cada caso tem sua narrativa própria, um limite a ser respeitado, mas, que não deve demover radicalmente o médico do intuito de praticar o benefício.
Porque não basta a intenção do benefício na beira do leito, a preocupação com efeitos indesejados na medida em que eles possam ser previstos que se enquadra na ética da responsabilidade lembra um pensamento de Ralph Waldo Emerson (1803-1882): adocicados têm seus amargos, males têm aspectos bons. Uma bradicardia por uso de betabloqueador, uma monilíase por uso de antibiótico e uma hipotassemia por uso de diurético atestam eficiência terapêutica. Evidentemente, estas evidências requerem o Sempre Alerta do escotismo de Robert Stephenson Smyth Baden-Powell (1857-1941) e o Penso, logo existo de René Descartes (1596-1650).