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702- Na beira do leito, adversidade é uma questão da prudência e da coragem (Parte 1)

Não se pode dizer que métodos aplicáveis em medicina estão disponíveis na exata medida de uma estrita beneficência. Eles carregam um adverso com variável potencialidade de realização. Pude conscientizar-me sobre as desconformidades terapêuticas acompanhando pacientes sob uso do diurético mercurial gortulina, do anti-hipertensivo reserpina e do cardiotônico digitoxina. Lições magistrais sobre a denominada relação risco/benefício sustentada por uma disposição recíproca ambígua entre fármaco e paciente. Trouxe uma visão integrada entre adversidade, prudência e coragem  no raciocínio clínico.

Adversidade na prescrição médica contemporânea refere-se a qualquer efeito indesejado. Prudência é uma virtude, sabedoria prática para deliberar o mais corretamente, para fazer escolhas entre o que é bom e o que é mau na circunstância. Já a coragem não é ausência de medo, é prosseguir apesar dele. Menor número e intensidade de danos juntos ao benefício é objetivo relevante na beira do leito contemporânea e, assim, ele é exigente de uma mescla de prudência e de coragem- para fazer e para não fazer. No jargão médico sensível à Bioética, não maleficência é a correlata palavra de ordem na beira do leito.

A não maleficência tem origem hipocrática – Primum non nocere. Ela evoluiu da precaução do Pai da Medicina em evitar o uso de métodos duvidosos destituídos de evidências concretas de benefício e que podiam causar danos e agravamentos clínicos. Após 26 séculos, ela está revigorada como princípio da Bioética e requer um juízo crítico aguçado.

A análise avaliativa sobre adversidades em potencial atreladas à obtenção de benefícios de aplicações clinicamente validadas para as circunstâncias clínicas coleciona desafios, dilemas e conflitos. A experiência clínica enfatiza que o não da designação do princípio, na verdade, precisa ser decodificado como menos possível, ou seja, quase nunca representa isenção de potencialidade.

A beira do leito nunca esteve tão maleficente, um panorama que não significa, entretanto, anti-beneficência. É um aspecto dos filtros para a farta pluralidade de métodos validados na medicina que causam tensão prescritiva. A consideração do princípio da não maleficência alinha-se à responsabilidade profissional com a segurança biológica dos pacientes.

Função do método em si, doses e tempo de uso influenciam a manifestação de adversidades. As potencialidades precisam ser esclarecidas ao paciente. Elas podem gerar um não consentimento pelo paciente. É notório como uma leitura da bula de um medicamento devidamente prescrito pelo médico pode atemorizar o paciente a ponto de fazê-lo retornar à farmácia e trocar por alguns sabonetes e shampoos- isentos de bula. Ignorância? Sabedoria? Cada caso tem sua narrativa própria, um limite a ser respeitado, mas, que não deve demover radicalmente o médico do intuito de praticar o benefício.

Porque não basta a intenção do benefício na beira do leito, a preocupação com  efeitos indesejados na medida em que eles possam ser previstos que se enquadra na ética da responsabilidade lembra um pensamento de Ralph Waldo Emerson (1803-1882): adocicados têm seus amargos, males têm aspectos bons. Uma bradicardia por uso de betabloqueador, uma monilíase por uso de antibiótico e uma hipotassemia por uso de diurético atestam eficiência terapêutica. Evidentemente, estas evidências requerem o Sempre Alerta do escotismo de Robert Stephenson Smyth Baden-Powell (1857-1941) e o Penso, logo existo de René Descartes (1596-1650).

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