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570- Abadiânia, Goiás, Brasil, Terra (Parte 1)

Abadiania
CRédito: http://www.goiasturismo.go.gov.br/abadiania/

Conexão BLlivroEspiritualidade diz respeito à busca de significados transcendentes e religiosidade refere-se a crer num determinado poder transcendente. Estão incluídas na visão holística sobre cuidados com a saúde e, habitualmente, espiritualidade e religiosidade são apreciadas superpostas na prática.

Uma doença pode fazer eclodir a espiritualidade latente e um dos efeitos vantajosos, porque exercício pessoal, é contribuir para transmitir vitalidade, viabilizar coragem, foco em caminhos resolutivos, independência em processos de tomada de decisão. A Bioética da Beira do leito interessa-se pelos aspectos transcendentes, conceitos, valores, e princípios associados à espiritualidade – com ou sem regramentos religiosos- que atuam no ecossistema da beira do leito. Entende que deve conservar uma independência crítica sobre atitudes de teístas, agnósticos e ateístas acerca de tomadas de decisão sobre a saúde, até porque estas três categoriais costumam exibir um misto de aceitação sobre o que acredita e graus de indiferença e de hostilidade em relação aos demais. Entende que a enorme diversidade de crenças em pacientes com mesmo CID e suas implicações sobre causas – dor e doença como punição por pecados, por exemplo- e sobre objetivos- preservar vida pós-morte, por exemplo- exige máxima prudência em quaisquer interpretações a respeito de pressupostos da espiritualidade/religiosidade. Entende que deve manter um interesse cultural a respeito de resultados que alguém ou algum grupo atribua a intervenção divina, depreendendo, não mais, que o que é considerado excede a capacidade de explicação. Há muitos anos lidamos pratica e academicamente com conflitos entre médicos e pacientes Testemunhas de Jeová. Não infrequentemente, assistimos a formas religiosas de comportamento de pacientes que influenciam a relação médico-paciente, mas, não costumam comprometer a adesão ao tratamento recomendado pela medicina atualizada. Neste dezembro de 2018, a Bioética da Beira do leito foi despertada, por um lado, para uma expressão de espiritualidade no município de Abadiânia, mais especificamente, para as motivações da intensa romaria de caráter espiritual composta de infinitos tipos de gente- étnico, social, cultural, profissional, econômico, religioso- irmanada por mesma determinação em direção a única pessoa e, por outro, para a possibilidade da revelação de ensinamentos ao profissional da saúde – dicas sobre atitudes justificáveis ou alertas sobre cuidados a evitar que não são comumente apresentados nas faculdades das ciências da saúde.

Há muitos passados na vida de todo ser humano, aqueles que de fato vivenciados ativa e passivamente compõem a memória e aqueles que se enquadram no atavismo. Eles justificam a heterogeneidade de reações pessoais, cada uma passível de incompreensão por outras cristalizações de enxergar as circunstâncias.

Há o saber que ajuda pessoas a serem criteriosas na seleção de métodos em busca de funções, na pretensão por objetivos. Há a sabedoria que alerta para a inadequação da convicção sobre “desta água nunca beberei”. Como já se disse, a história de vida de cada um evolve em círculos de previsões e espirais de surpresas. Vale o provérbio indígena americano: Não critique alguém até ter a oportunidade de fazer uma caminhada com seus sapatos. 

Assim acontece perante expectativas e desesperos, obstinações e niilismos, narcisismo e humildade, autonomia e heteronomia, serenidade ou impaciência com o ritmo dos acontecimentos. Ganham forte evidência na área da saúde em função de prejuízos à qualidade de vida e de ameaças à sobrevida. Tragédias à porta transmutam interesses, carregam o potencial do desvio de condutas, corrompem a retidão de atitude, provoca mudanças extremadas da visão de bom ou mau, certo ou errado, justificável ou injustificável. Enfim, cheio de ambiguidades, estimulado pela possibilidade do certo por linhas tortas, sensível a uma ideia de mão invisível da Providência, eliminam-se antigas objeções de consciência, afinal, se outros e mais outros fizeram, algo deve existir, porque eu não deveria? 

Os profissionais da saúde acumulam experiências com posturas de pacientes motivadas por recordação, imaginação e ilusão e precisam lidar eticamente com as mesmas. Como envolvem a transdisciplinaridade, aproximam-se da Bioética e, assim, devem ser objeto de atitudes de rigor, porém com possibilidade de abrandamento por algum grau de transigência – abertura a desconhecimentos, tolerância a opiniões opostas.

Inquietações, angústias e sofrimentos renovam cotidianamente o apropriado do pensamento de Blaise Pascal  (1623-1662): o coração tem razões que a própria razão ignora.

Os recentes acontecimentos envolvendo a cidade de Abadiânia, em Goiás- povoado em 1874, distrito em 1943 e município em 1965-, destacam  aspectos das imprevisibilidades do comportamento humano face a um currículo médico que se prestam para reflexões sobre o  ecossistema da beira do leito. Evidenciam atividades de atenção à saúde reveladas e desempenhadas por não profissionais da saúde, à margem das ciências da saúde, e que acontecem entrelaçadas com a medicina. Por vezes alternativa, por vezes complemento como um catalizador transcendente, algo como terapia adjuvante.

A intensidade das atividades noticiadas, sua longa vida, alcance global fortemente retroalimentadas pela publicidade crédula dos próprios usuários, a ininterrupta motivação apenas boca a boca, suscita certas reflexões para a formação do médico sobre o mundo real  e simbolismos em permanente recombinação onde desempenhará o profissionalismo. O caráter didático das apreciações, sem nenhuma intenção de formular juízos morais, apenas como observatório da conduta de humanos  em exaustiva atenção a suas necessidades de saúde, beneficia-se pela aplicação de conceitos da Bioética que tratam das realidades da condição humana em situação de maior vulnerabilidade por questões envolvendo ameaças à continuidade da vida.

É particularmente vantajoso para o jovem médico apreender sobre peculiaridades do íntimo da pessoa-paciente, sobre conceitos que estão na contracorrente da medicina, sobre a estrutura de pensamentos acerca da saúde alinhados com percepções e afetos do ser humano dissociados de uma base empírica.

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