Erros acontecem na beira do leito. Há os relacionados à tecnociência e há os relacionados à atitude. Não deixa de haver uma interligação entre estas duas modalidades.
No momento atual do aprendizado em Medicina, um médico recém foi diplomado após seis anos de estudos e de práticas entendidas como pedagógicas tem o potencial de se envolver com uma série de erros por desconhecimentos e inabilidades. Ele está legalizado para o exercício profissional por meio de um número de CRM, porém, vê-se limitado para assumir responsabilidades na atenção a necessidades de saúde da sociedade.
A Residência médica é a oportunidade para acumular a experiência que permite elevar a possibilidade de acertos diagnósticos, terapêuticos e preventivos. Este desenvolvimento de qualificação profissional exige a supervisão de alguém que assim aprendeu e lapida o seu aprendizado no cotidiano da beira do leito, inclusive quando ensina.
O jovem recém-formado pode aprender a fazer corretamente o que precisa saber fazer corretamente de duas maneiras, em geral. Na primeira, ele parte da escassez de um aprendizado e adquire o conhecimento pretendido sem escalas em momentos de erros. Na segunda, erros profissionais imediatos constituem estágios construtivos de acertos no longo prazo. Visão pessoal do residente a respeito dos seus limites de iniciativas e estrutura da supervisão influenciam o aprendizado com ou sem escalas em erros.
A interface entre residente de Medicina empreender por si e segundo uma orientação de supervisão é complexa. Zonas cinzentas habitam a distribuição de tarefas que admitem um aprendizado da graduação e que são inéditas. A bagagem da graduação pode ou não estar bem qualificada para ser diretamente empregada e o nunca praticado pode ou não ser diretamente aplicado a partir da obtenção de informações na literatura.
O residente de Medicina faz parte de um time, necessariamente, onde atuam mais experientes – supervisão direta ou indireta-, iguais- demais residentes de mesma categoria- e menos experientes – internos e residentes mais novos. Uma medida da boa organização é a grandeza da eliminação de intenções de atuações concebidas como corretas em função do noviciado que seriam erros se aplicadas. De certa maneira, assim demonstra o equilíbrio entre estimular o residente a ter iniciativas e o assessoramento pela supervisão. Ademais, a rapidez com que a supervisão detecta erros e providencia correções.
Qualquer disposição por melhor que seja entre aprendizado/supervisão, vale dizer a existência de critérios judiciosos sobre deixar mais livre ou mais contido o residente para executar por si decisões e execuções, não evita uma quantidade de erros pelo jovem médico.
A chamada curva de aprendizado embute o conceito que erros profissionais são inevitabilidades para o aprendizado do médico, que eles têm forte apelo pedagógico e, muitos preferem usar a figura no plural pelo entendimento que reduzir um tipo de erro pode elevar o potencial para outro tipo.
Pode soar estranho que de erro em erro, o jovem médico constrói acertos, por isso, é essencial enfatizar que esta realidade é uma fração minoritária do cotidiano entre o domínio dos acertos, todavia, o aprendizado assim decorrente do mundo real é imprescindível para o alcance da excelência do atendimento na beira do leito em face das complexidades da Medicina.
Se o paciente é a vítima maior de um erro profissional, o médico é uma vítima secundária pois é atingido por sentimentos de culpa, vergonha, humilhação e por auto-questionamentos de sua inata competência para exercer a profissão. Assim, a supervisão do residente que irá errar inevitavelmente, além do cuidado na evitação e na correção, precisa incutir no jovem que erros não devem ser jogados para debaixo do tapete, pois desconfortos resultantes são fontes de confortos futuros para si e para o paciente. Por isso, o valor da crítica construtiva, reflexão motivadora e implacável perseguição pela correção em seus sentidos de correto e de modificação para melhora- e evitando aquele sentido de castigo.