Bioamigo, você sabe muito bem que frente à perspectiva de um diagnóstico vindouro- prevenção primária- ou de novo episódio- prevenção secundária- propõem-se mudanças de hábito e efeitos farmacológicos validados pela chance alta da beneficência, embora não haja certeza do benefício.
A apresentação ao paciente sob rótulos de evitação possível requer que se esclareçam sobre eventualidades de adversidades- aspirina, estatina, diurético, por exemplo- o que junta dois aspectos de indeterminação alinhados um à conveniência da resolução e outro a inconveniências evolutivas. A interdependência dificulta convencer sobre qualidade de vida futura em situações onde a atual está bem preservada.
O habitual é enfatizar a relação risco-benefício. Um sentido de imediatismo costuma predominar. O fumante “saudável” persiste e o alcoólatra inchado desiste, o mais provável frente a orientações preventivas. O que nos remete ao paradoxo de sorites- quanto de perda de um caráter de futuro longínquo da realização do risco é necessária para estimular a aceitação do benefício preventivo? Uma grandeza que além de quantitativa é também qualitativa como atesta um determinado item desencorajante na bula de um medicamento.
A força da rotina facilita o profissional da saúde a manejar as indeterminações à medida em que dificuldades por incompreensões e contraposições sucedem-se manifestas pelo direito à voz ativa do paciente para participar de uma tomada de decisão, frequentemente para ele inédita em termos teóricos e práticos.
A Bioética da Beira do leito interessa-se pelas dificuldades na absorção pelo leigo sobre a efetiva realização do sentido de beneficência exposto pelo médico que são particularmente verificadas nas orientações sobre prevenção. Ela enfatiza que as exposições devem guiar-se pelo propósito do benefício individual, porém nunca podem se afastar do cunho de possibilidades. Conciliar que se trata de redução de risco e chance de obediência insere-se no carrossel difícil-fácil da beira do leito.