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971- Paciente livre, médico aprisionado? (Parte 1)

O valor prático da compreensão do significado da Bioética  pelo profissional da saúde na beira leito inclui a contribuição para que os atendimentos sejam sucessões de oportunidades para o desenvolvimento das interações entre suas peculiaridades ontológicas de ser humano e as obrigações da deontologia de estar profissional. Cenário emblemático é a ocasião da exposição pelo médico da recomendação terapêutica ao paciente que compõe o processo de consentimento livre e esclarecido.

As informações visando aos esclarecimentos carregam comumente um é e um deve. Comunicam-se fatos e valores. A linguagem dos fatos está longe da neutralidade, por isso vem contaminada com valores, todavia, a imparcialidade  sobre os fatos em si – diagnóstico, perspectivas beneficentes e maleficentes e de prognóstico- precisa predominar. Não é tarefa fácil evitar conotações coercitivas desapercebidas.

Algum joio haverá no trigo como matéria-prima da comunicação. A prática perdoa certo percentual, aliás, pacientes não deixam de se interessar por graus de comportamentos tanto cooperativos quanto dominadores do médico. Cada conexão médico-paciente é sempre uma questão em aberto, pois as infinitas circunstâncias não infrequentemente formam fronteiras fluidas entre o ético e o não-ético. Uma tônica de voz, um gesto, um olhar do médico podem exercer influências decisivas.

A recomendação terapêutica que será alvo do direito do paciente a dar ou não consentimento tem um contexto, a expressão de um propósito que é da medicina e materializa-se como ato de linguagem. O conteúdo proposicional possui a força de afirmar, sugerir e um misto, embora cauteloso, de promessas e exigências. Sem a força propositiva, a comunicação resulta inerte ainda mais quando o tema é pouco conhecido pelo paciente. As palavras são como radicais químicos, precisam acoplar com um valor, dificultando que a não neutralidade profissional não escape da moldura da imparcialidade.

A força afirmativa da linguagem do médico acarreta uma inescapável obrigação pelo Sim ou Não do paciente. O receptor se vê diante de uma lista que não elaborou, que contém pressuposições e compartilhamentos, indeterminações, inclusive, que precisa aceitar ou recusar. O paciente pode solicitar ajustes com distintas repercussões sobre o contexto das recomendações.

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