3834

PUBLICAÇÕES DESDE 2014

971- Paciente livre, médico aprisionado? (Parte 1)

O valor prático da compreensão do significado da Bioética  pelo profissional da saúde na beira leito inclui a contribuição para que os atendimentos sejam sucessões de oportunidades para o desenvolvimento das interações entre suas peculiaridades ontológicas de ser humano e as obrigações da deontologia de estar profissional. Cenário emblemático é a ocasião da exposição pelo médico da recomendação terapêutica ao paciente que compõe o processo de consentimento livre e esclarecido.

As informações visando aos esclarecimentos carregam comumente um é e um deve. Comunicam-se fatos e valores. A linguagem dos fatos está longe da neutralidade, por isso vem contaminada com valores, todavia, a imparcialidade  sobre os fatos em si – diagnóstico, perspectivas beneficentes e maleficentes e de prognóstico- precisa predominar. Não é tarefa fácil evitar conotações coercitivas desapercebidas.

Algum joio haverá no trigo como matéria-prima da comunicação. A prática perdoa certo percentual, aliás, pacientes não deixam de se interessar por graus de comportamentos tanto cooperativos quanto dominadores do médico. Cada conexão médico-paciente é sempre uma questão em aberto, pois as infinitas circunstâncias não infrequentemente formam fronteiras fluidas entre o ético e o não-ético. Uma tônica de voz, um gesto, um olhar do médico podem exercer influências decisivas.

A recomendação terapêutica que será alvo do direito do paciente a dar ou não consentimento tem um contexto, a expressão de um propósito que é da medicina e materializa-se como ato de linguagem. O conteúdo proposicional possui a força de afirmar, sugerir e um misto, embora cauteloso, de promessas e exigências. Sem a força propositiva, a comunicação resulta inerte ainda mais quando o tema é pouco conhecido pelo paciente. As palavras são como radicais químicos, precisam acoplar com um valor, dificultando que a não neutralidade profissional não escape da moldura da imparcialidade.

A força afirmativa da linguagem do médico acarreta uma inescapável obrigação pelo Sim ou Não do paciente. O receptor se vê diante de uma lista que não elaborou, que contém pressuposições e compartilhamentos, indeterminações, inclusive, que precisa aceitar ou recusar. O paciente pode solicitar ajustes com distintas repercussões sobre o contexto das recomendações.

COMPARTILHE JÁ

Compartilhar no Facebook
Compartilhar no Twitter
Compartilhar no LinkedIn
Compartilhar no Telegram
Compartilhar no WhatsApp
Compartilhar no E-mail

COMENTÁRIOS

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

POSTS SIMILARES

fev0 Posts
mar0 Posts
abr0 Posts
maio0 Posts
jun0 Posts
jul0 Posts
ago0 Posts
set0 Posts
out0 Posts
nov0 Posts
dez0 Posts
jan0 Posts
fev0 Posts
mar0 Posts
abr0 Posts
maio0 Posts
jun0 Posts
jul0 Posts
ago0 Posts

fev0 Posts
mar0 Posts
abr0 Posts
maio0 Posts
jun0 Posts
jul0 Posts
ago0 Posts
set0 Posts
out0 Posts
nov0 Posts
dez0 Posts
jan0 Posts
fev0 Posts
mar0 Posts
abr0 Posts
maio0 Posts
jun0 Posts
jul0 Posts
ago0 Posts