Caso o Não se torne definitivo na segunda instância apesar das tentativas pelo Sim doutor, o registro descritivo em prontuário da atitude prudente de acolher o paciente e insistir- sem coerção- a comungar com a comunidade de interpretação profissional e que resultou infrutífera é evidência que desfavorece hipotéticas acusações de descaso. Da mesma forma, sempre que possível, é auspiciosa a manutenção do paciente sob os cuidados então permitidos embora distantes do estado da arte.
A Bioética da Beira do leito entende que a crítica do rascunho em serviço facilita estabelecer apreciações úteis sobre ligações entre prognóstico, beneficência e autonomia. Ponto nevrálgico desta composição é o direito do paciente ao não consentimento a uma recomendação beneficente que se torna fator agravante do prognóstico.
Não raramente, o Não doutor representa perda de uma boa oportunidade de beneficiar o prognóstico clínico que não mais acontece pelo agravamento natural. Ademais, o eletivo de hoje pode virar a emergência de amanhã que cassa o direito de autonomia do paciente e acentua os riscos de má evolução. Faz parte do treinamento crítica do rascunho em serviço praticar a comunicação que possa ser convincente para deslocar positivamente a janela de Overton na beira do leito sem enveredar pelo terrorismo psicológico.
Lápis e borracha em feedback com realidades da beira do leito são instrumentos do tempo, sempre carente, aliás não temos tempo, o tempo que nos tem. O par básico para a função de retratista na cultura da beira do leito é imprescindível para o amadurecimento do profissional da saúde, sendo valorizado pela Bioética da Beira do leito na disposição para crítica do rascunho em serviço.
Se for verdade que existem doentes, não doenças, como médicos humanistas, por exemplo William Bart Osler (1849-1919) afirmaram, será, então, também verdade que existem profissionais da saúde, não ciências da saúde. Assim sendo, todo caso poderá ser figurado respeitosamente como rascunho para o próximo.
