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942- Utilidade e útil (Parte 5)

Emergências médicas constituem percentual razoável do treinamento do jovem profissional da saúde e assim condicionam comportamentos. Elas isentam do compromisso ético com conduta consentida, desobrigam do consentimento livre, esclarecido, renovável e revogável pelo paciente como ocorre nas eletividades.

As circunstâncias extremas de risco iminente de perda da vida exigem uma presteza de profissionalismo que, então, não resulta visto antagônico ao paternalismo, não presume indevida superioridade, pois o que precisa prevalecer sem hesitações é a beneficência imediata, bem treinada e accessível.

Fica evidente, pois, como peculiaridades da história natural das doenças – muitas vezes sujeitas a imprevisibilidades evolutivas- influenciam fortemente a moralidade do profissionalismo na beira do leito. A Bioética da Beira do leito enfatiza que dentro desta óptica não faltam situações em que não se mostram claros critérios para assegurar que ocorre uma iminência de morte evitável.

A chance de acontecer a emergência precisa ser cogitada, providências preventivas tomadas dentro das possibilidades, mas não é rotina esclarecer o paciente sobre eventualidades, muito menos solicitar consentimento para possíveis condutas. O inesperado de uma parada cardíaca em paciente internado é ilustrativo. O grito ressoante de Parada! que provoca intensa movimentação é figura que faz comparar a beira do leito a um sensível calidoscópio.

Variações clínicas na beira do leito contemporânea em cenários plurais calibram a admissibilidade ética. A Bioética da Beira do leito interessa-se pelas fronteiras pouco demarcadas entre instâncias determinantes da hierarquia da escolha do paciente e da exigência do paternalismo. Constituem situações polêmicas do cotidiano da beira do leito em que pode ou não ser aplicável o dito por Thomas Jefferson (1743-1826): Cautela pode ser preferível ao erro.

O compromisso com a cautela para a evitação de erro perante obscuridades entre ainda eletividade ou já iminência de morte evitável é fonte comum de indecisões na beira do leito. Uma precipitação ou um adiantamento judicoso?

O profissional da saúde quando necessita esclarecer o paciente sobre uma recomendação, deve fazer, idealmente, em linguagem clara, positiva e bem fundamentada. Assim procedendo, ele objetiva a aprovação, o cumprimento do dever e a evitação de uma culpa ética/punição.

Há um pano de fundo compassivo, é verdade, mas a influência da responsabilidade profissional (princípio fundamental II do Código de Ética Médica 2018: O alvo de toda a atenção do médico é a saúde do ser humano, em benefício da qual deverá agir com o máximo de zelo e o melhor de sua capacidade profissional) é força predominante num momento crucial da intenção da prestação do serviço.

Não é fácil, contudo, compartilhar com o paciente indeterminações sobre o que poderá tornar-se-á benefício com riscos de malefícios acerca de perspectivas de o caso virar uma emergência, o que inibe diálogos e acentua a unilateralidade profissional.

É tema de  relevância para a Bioética da Beira do leito que envolve a valorização do respeito à pessoa em torno da relação de potencialidade entre beneficência presumível e maleficência cogitável. Em outras palavras, o profissional da saúde na beira do leito deve ter em mente que o peso qualitativo da classificação IA de métodos numa diretriz clínica nem sempre ajuda em indeterminações sobre fronteiras entre eletividade e emergência. .

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