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927- Caloroso iceberg (Parte 8)

Bioamigo, pense junto, uma eventual necessidade de ligar uma artéria por um acidente intra-operatório não verbalizada como risco no esclarecimento pré-operatório difere em termos de consentimento do paciente do uso de antibiótico pós-operatório por infecção hospitalar  preocupante?

A inconsciência da anestesia no primeiro caso contaria? Como vê, bioamigo, a Bioética interessa-se pela potencialidade de cenários plurais, cada qual com seus desafios.

Por isso, cada profissional da saúde precisa elaborar seus próprios critérios para o uso do mas, ou seja, para definir quando sua tomada de decisão precisa considerar um direito de objeção por parte do paciente.

Voltando à discussão dos circunstantes sobre o caso da ocorrência da infecção hospitalar, havia um sentido de indignação na fala de todos com única exceção. Paciente e familiares quando haviam questionado o médico receberam não mais do que “acontece em qualquer ambiente hospitalar, aliás é comum de a bactéria responsável ter sido trazida pelo próprio paciente”.

A concepção da triangulação médico-medicina-paciente, essência da Bioética da Beira do leito, remonta a Hipócrates (460ac-370ac), época em que praticamente inexistia médico e medicina para o paciente. O Pai da medicina já se preocupava com as intercorrências como se deduz pela formulação do “primum non nocere”.

Como intercorrência exige ter havido a ocorrência, o progresso a tornou possibilidade crescente. Mas- olha ele de novo- a concepção da não maleficência persiste e até pode superar a da beneficência como atesta o efeito bula. Neste contexto, não estava havendo compreensão dos familiares do paciente sobre porque um hospital tão conceituado, uma equipe renomada, um paciente sem comorbidades predisponentes poderiam provocar uma infecção hospitalar.  Ademais, foi verbaluzado que a culpa poderia ser do próprio paciente, a bactéria seria dele? Como assim? A exceção de opinião era de um velho conhecedor do mundo real da medicina, muita experiência como paciente e muita confiança nos médicos, um pragmático esclarecido.

A vivência em intercorrências no ecossistema da beira do leito reforça a Bioética da Beira do leito questionar de modo repetitivo: Até que ponto, consentimentos do paciente a recomendações médicas em geral são de fato livres e esclarecidos? Cabe 100%? Que percentual poderia ser aceitável? Até que ponto certo grau de paternalismo não se faz presente, e até desejado pelo paciente?

Por isso, o valor do apuro na linguagem na beira do leito, a justificativa para o uso de metáforas como a do iceberg (interesse pelo oculto) e do paradoxo de sorites (o quanto pode ser perdido e não trazer mudanças conceituais?).

Perante um corpo doente, a conexão mente do médico-mente do paciente beneficia-se dos mergulhos Foto de um enorme Iceberg - www.e-farsas.compara melhor conhecer  icebergs e deles captar calor humano!

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