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922- Caloroso iceberg (Parte 3)

Recentemente, li uma ilustração que agora aproveito: Suponha, bioamigo, que esteja numa pinacoteca. Você para diante de um quadro, percebe que a pintura é do seu interesse. Evidentemente, este contemplativo associa-se a outro estado emocional em relação à beira do leito, mas vale a analogia com o momento de apreciação de uma recomendação médica.

Na obra de arte, há uma paisagem. Sua representação alinha-se à perspectiva dada pelo pintor e que definiu cada aspecto e o total. Se por um lado é impossível mudar a paisagem, por outro, o pensamento aplicado pelo observador pode configurar possibilidades de estilos de captação para a pintura, mais classicista, mais expressionista.

A relação de semelhança que serve de lição é que perspectiva como modo de apreciar uma situação específica- que resulta no quadro pintado, e que em clínica admite a expressão quadro clínico- articula-se tanto a estruturações esperadas como a reestruturações inesperadas pensadas num tempo e num espaço. Associações entre o que o médico pinta – no sentido de descrever- como recomendação e o que o paciente “recomenda-se” são, pois, construções sobre percepções de realidades.

Vamos focar no momento das primeiras palavras disparadas numa recomendação médica. Seja lá quais elas possam ser, têm grande chance de serem recebidas pelo paciente com o forte impacto de algo é possível. Já as palavras sequentes darão sentido que um efeito é provável, que ele se faz necessário, que ele de fato existe. Assim, no caminho do consentimento, desenvolve-se uma estruturação com perspectivas sustentadas frase por frase, pinceladas passíveis de ajustes. Possível, provável e necessário criam um núcleo interpretativo e os juízos do paciente distribuem-se numa plataforma moldada por isto, agora e aqui.

Um sentido de abuso de autoridade fundamentou o direito de voz ativa do paciente perante uma recomendação médica. A analogia acima referida permite evidenciar que um não consentimento que impede uma violência moral de imposição de uma aplicação de método em medicina pode ser uma questão de desejo-numa primeira ordem- e de preferência- numa segunda ordem- que faz o paciente não se deter numa determinada pintura numa pinacoteca, como outros estão fazendo. O trio possível, provável e necessário integrados pelo paciente com mais subjetividade do que a objetividade do médico.

O esclarecido que acompanha o termo de consentimento livre pode, então, ser comparado a uma visita guiada pela pinacoteca, onde um especialista expõe o método de execução de modo compreensível para revelar superposições com como seria visto numa fotografia tirada com o mesmo interesse pela captação.

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