3891

PUBLICAÇÕES DESDE 2014

893- Espinhos (Parte 3)

A Bioética da Beira do leito entende que certo efeito de massa – informações especializadas com fácil acesso pela população, campanhas de esclarecimentos, consultas coletivas- contribui para reduzir contraposições pelo paciente, pelo reforço do calor e melhor integração com os espinhos. Evidentemente, a confiança é essencial para que o paciente compartilhe  as especificidades de raciocínio clínico do médico, algo como ler a bula do medicamento com forte influência do sentido que norteou a prescrição, assim beneficiando a adesão.

Uma “quase parábola” de Sigmund Schlomo Freud (1856-1939) é aplicável neste âmbito da iatrogenia:

“… Faça-se passar fome, por igual, a um grupo composto por indivíduos mais diversos entre si. À medida que cresce a imperiosa necessidade de alimentar-se, se apagarão todas as diferenças individuais e emergirá, em seu lugar, as uniformes exteriorizações dessa única e não saciada pulsão…”.

Havendo favorável relação benefício/risco de adversidade (segundo mal), é desejável em função das realidades da doença (primeiro mal) que o lidar com o segundo mal pelo paciente seja profissionalmente respeitado no processo de consentimento, mas, é aceitável uma postura paternalista do médico que contribua para dar flexibilidade a diferenças de opinião. Esta situação verifica-se, por exemplo, quando o paciente não consente e o médico de uma forma branda (não coercitiva) expõe novamente os espinhos da forma mais realista pretendendo contrapor a analogias e imaginações que podem estar acentuando o pontiagudo dos espinhos e assim impedindo o encontro com o benefício.

A iatrogenia é fator de risco para conflitos na beira do leito. A Bioética da Beira do leito reforça que iatrogenia refere-se etimologicamente a qualquer atuação de responsabilidade do médico, muito embora, seja empregada por muitos para designar um malefício.

O enunciado lúdico do início deste artigo, do paciente retornado à farmácia após ler a bula, com seu simbolismo de troca de um fármaco por um cosmético, dá guarida a uma amplitude de circunstâncias da conexão médico-paciente onde malefícios relacionados aos métodos – não a falhas do médico- geram frustrações de expectativa por parte do paciente/familiar e consequente intenção de responsabilizar o profissional.

Por isso, a relevância da atitude médica de combinar na beira do leito a tríade composta por: a) rigidez tecnocientífica; b) abertura para o desconhecido, o inevitável; c) tolerância a contraposições de opinião, e que constituem alicerces da Bioética da Beira do leito de inspiração no comportamento transdisciplinar. A aplicação dialógica da “bula” quantum satis para cada método em medicina contribui para preservar o distanciamento entre bem e mal cogitáveis e, ao mesmo tempo, respeitar o direito à autonomia do paciente.

Caso após caso, os cuidados com a evitação de deixar conflitos fora de controle são imprescindíveis na beira do leito contemporânea de tantas necessidades deliberativas. São desafios sucessivos que  encontram analogia com Um menino nasceu! – O mundo tornou a começar! de talvez-300x149.jpgGrande Sertão: Veredas escrito por João Guimarães Rosa (1908-1967): Um caso nasceu! A medicina tornou a começar! … com benefícios, malefícios, Sim ou Não e… inúmeros talvezes… Alô Bioética!

COMPARTILHE JÁ

Compartilhar no Facebook
Compartilhar no Twitter
Compartilhar no LinkedIn
Compartilhar no Telegram
Compartilhar no WhatsApp
Compartilhar no E-mail

COMENTÁRIOS

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

POSTS SIMILARES

abr0 Posts
maio0 Posts
jun0 Posts
jul0 Posts
ago0 Posts
set0 Posts
out0 Posts
nov0 Posts
dez0 Posts
jan0 Posts
fev0 Posts
mar0 Posts
abr0 Posts
maio0 Posts
jun0 Posts
jul0 Posts
ago0 Posts

abr0 Posts
maio0 Posts
jun0 Posts
jul0 Posts
ago0 Posts
set0 Posts
out0 Posts
nov0 Posts
dez0 Posts
jan0 Posts
fev0 Posts
mar0 Posts
abr0 Posts
maio0 Posts
jun0 Posts
jul0 Posts
ago0 Posts