A Bioética da Beira do leito admite a não separabilidade entre médico e paciente como um alicerce. O racional é o preceito ético que a responsabilidade profissional do médico é sempre pessoal e não pode ser presumida.
A Não separabilidade é conceito da microfísica segundo o qual entidades quânticas continuam a interagir após o afastamento, independente da distância. Transposto para a beira do leito, significa que médico e paciente costumam interagir e se afastar, mas a distância física, contudo, não altera a responsabilidade profissional no decorrer da aplicação de uma conduta.
Em outras palavras, uma alta hospitalar ou uma prescrição ambulatorial não separam o médico do paciente, aliás tradição da medicina alinhada à confiança do paciente e ao acolhimento do médico perante as necessidades. Atualmente, com o médico na palma da mão do paciente, literalmente, por smartphones, este comportamento da microfísica tornou-se essência da conexão médico-paciente.
A não separabilidade – relação médico-paciente, conexão médico-paciente- pode admitir a figura de um continuum de palavras preenchendo o espaço real ou virtual que os medeia, e onde timings regem a distribuição da participação de cada um.
Por ocasião do processo de consentimento pelo paciente, a beira do leito é um espaço de liberdade e um tempo didático. O esclarecido inserido na denominação termo livre e esclarecido tem o objetivo de transformar saberes complexos em conhecimento simplificado.
O médico aplica práticas e métodos a fim de facilitar a absorção do conteúdo pelo paciente, algo como um plano de aula. A legitimidade do vindouro Sim ou Não do paciente depende, pois, das aptidões desenvolvidas pelo médico para sintetizar e transmitir pensamentos e propósitos relevantes para o contexto.
A intensidade de apreensão das informações médicas pelo paciente é compreensivelmente variável de pessoa para pessoa, por isso, a Bioética da Beira do leito entende inevitável que manifestações de concordâncias e discordâncias do paciente carreguem proporções de indeterminações.
Como o paciente não está preparado para lidar com elas, com certa frequência a resposta livre e esclarecida do Sim ou Não representa uma palavra-síntese de refúgio numa individualização de contexto. Há a flexibilidade epistêmica – o paciente passa a conhecer a sua maneira alguma medicina, captura manchetes de evidências. Há a flexibilidade semântica – o paciente faz suas interpretações, habitualmente usando analogia e imaginação, como que matutando entre aspas. Há a flexibilidade metafísica- o paciente privilegia o suprassensível, ou seja, o pensamento para a tomada de decisão não é sustentado pelo conhecimento adquirido ou pelos significados de comparações ao conhecido, mas, por exemplo, num portátil de crenças, superstições.