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879- O médico como um gene aperfeiçoador (Parte 3)

gene hipoDesenvolvido o exercício, tendo refletido sob hipótese, bioamigo, vamos para o mundo real da beira do leito., deixando o gene hipocrático tão somente como uma referência reflexiva. Ah! Bioamigo, considere antes que a literatura médica coleciona alguns pensamentos conflitantes de filósofos como Julian Savulescu (nascido em 1963) e Jürgen Habermas (nascido em 1929) acerca do tema genético.

As divergências abrangem dois pontos básicos para as interpretações sobre autonomia na naturalidade da condição humana, ainda mais em meio a excesso de vulnerabilidade: capacidade e autenticidade. Ambos filósofos são hábeis em considerações que podemos deles absorver. Facilitam entender realidades e ficções embutidas no Sim ou no Não que o paciente possa chamar de meu e, caso a veia poética estiver pega, o acréscimo do fundo coração, doutor

Mas se você bioamigo gosta de tudo bem explicadinho- o que é muito bom-  logo perceberá que capaz e autêntico ficam com sentido vago na fundamentação da autonomia. Pois é, bioamigo, o princípio da autonomia, que é uma essência, é nomeado por um termo com indefinições. Não é incomum, usamos a sintaxe na maior intimidade, mas com lacunas de semântica, enchemos a boca para falar uma palavra da moda e temos dificuldade em explicá-la para nós mesmos, ou seja, continuamos de boca aberta pensando.

De fato, há diversidade sobre o significado filosófico de autonomia. Há o sentido do desejo e que pode envolver aspectos de razão moral, certas obrigações (por exemplo, de ordem religiosa), há o sentido da coerência da preferência com o desejo (por exemplo, desejo de se tratar -primeira ordem-, preferência por determinado procedimento- segunda ordem), há o sentido da isenção de influência externa controladora (por exemplo, o poder do paciente de não consentir com o médico- talvez o mais aplicado) e há o sentido da competência para o exercício da razão (por exemplo, a criança não tem direito ao exercício da autonomia porque ela é legalmente incompetente).

A pluralidade de conceituação traz dificuldades para respostas à questão formulada na Parte 2: a programação genética prospectiva para uma eugenia de consentimento à beira do leito deve ser considerada restrição à liberdade de escolha do paciente geneticamente manipulado quando houver a necessidade de decisão sobre atenção à saúde?

Especialmente com respeito aos efeitos da manipulação genética mentalizada, haveria mais interrogações sobre a eticidade de influências nos desejos e preferências e, de certa forma, mais entusiasmo sobre a isenção de influência externa e capacidade para compreender. Evidentemente, uma programação genética desta natureza necessitaria de um extraordinário poder para enfeixar as distintas teorias plausíveis da autonomia no sentido de um sempre ideal beneficente ao “que der e vier”. Não podemos esquecer que verdades expostas pelo médico alinham-se ao conhecimento que pode ser universal e que os valores do paciente alinham-se ao desejo/preferência (individualidade), o que explica as complexas situações de desintegração entre heteronomia (proposição tecnocientífica) e autonomia (escolha e poder para prevalecer).

Bioamigo, debrucemos sobre a analogia entre o fantasiado gene hipocrático que superpõe mente do paciente e do médico acerca de razões de relevância para o alcance de objetivos beneficentes e o processo de esclarecimento do paciente pelo médico na beira do leito e que tem a mesma intenção.

A preservação do que habitualmente consideramos como respeito ao direito de autonomia do paciente exige combinar não manipulação (no senso de falsificação da realidade) de desejos e preferências, bem como de objetivos e manipulação (no senso de preparação) cognitiva, ou seja, prover subsídios decisórios tecnocientíficos sem violentar a identidade.

Ajustes conciliatórios na conexão médico-paciente entre beneficência e autonomia são observados em pacientes crônicos que já passaram por várias tomadas de decisão na beira do leito e assim, adquiriram níveis razoáveis de formatação de “cabeça de médico” alinhados à auto apreciação de um fim para meios potencialmente beneficentes.  Cognição

Na analogia com o gene hipocrático, o médico funcionaria como “gene” moralmente indiscutível facilitador da capacidade do paciente para lidar de modo desejável e aceitável com a matéria-prima de informação conforme a medicina e com garantia da liberdade necessária para a autenticidade de expressão. Em outros termos, o médico como um educador, um catalisador da máxima cognição possível pelo paciente, um estímulo para o uso da sua razão, enfim um preparador do momento da tomada de decisão.  O médico como um exterior num nível beneficente e respeitoso de homogeneização interior do paciente.

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