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865- Vir(Ati)tudes- Parte 8

SlideunicoOctetoO Dr. João ilustra  uma tradição da medicina, o Juramentocompromisso com as virtudes representado no juramento de Hipócrates.

O eminente Edmund Daniel Pellegrino (1920-2013), referência em Bioética, motivou-se a relacionar um octeto de virtudes:

Fidelidade: Um imperativo da consciência do profissional da saúde para honrar o compromisso assumido, a palavra empenhada, não violar a confiança. É a virtude da memória, a virtude do mesmo.

Compaixão: O profissional da saúde precisa desenvolver a capacidade de participar de modo afetivo, aplicar seus  sentimentos. Adjetiva o uso de um medicamento ainda não liberado, de certa forma desestimula a obstinação terapêutica e dá sustentação para o suicídio assistido legalizado em alguns países.

Prudência: É virtude e preceito ético no artigo número 1 do nosso Código de Ética Médica. Pressupõe o que é habitual na beira do leito, as incertezas, os riscos de intercorrências e adversidades, o acaso e o desconhecido nos processos de tomada de decisão entre o que é necessário escolher e o que é necessário evitar. Ser prudente facilita vislumbrar perspectivas de futuro quando das aplicações dos princípios da beneficência e da não maleficência da Bioética. A ética da responsabilidade- responsabilidade de Estou ciente que fiz isso! De modo virtuoso de dentro para fora. Ética qualitativa – quer que respondamos não apenas por nossas intenções ou nossos princípios, mas também pelas consequências de nossos atos, tanto quanto possamos prevê-las. É uma ética da prudência.

Justiça: Distribuição equitativa dos recursos e serviços, imparcial e não discriminatória.  A que melhor faz compreender que não são as virtudes que fazem os virtuosos, são os virtuosos que fazem as virtudes. Ou seja, não são as virtudes que fazem os profissionais da saúde virtuosos, são os profissionais da saúde virtuosos que preenchem a beira do leito com virtudes.

Coragem: Sem coragem, não conseguiríamos prosseguir apesar dos temores. Especialmente na beira do leito, a coragem moral contribui para preservar a nossa liberdade dentro da moldura profissional, para reconhecer desacertos e empreender revisões de condutas. Carrega o paradoxo de precisarmos ter a convicção para prescrever e ao mesmo tempo ter algumas dúvidas.

Moderação: É temperança, ser um gourmet, não um glutão, contentar-se com o que basta para a excelência, mais qualidade, menos quantidade. Manter o controle sobre o excesso sem incorrer na carência.Um trabalho de desejo sobre si mesmo para respeitar limites. Contribui para o controle de certos impulsos.

Integridade: Sem a integridade a relação médico-paciente seria um caos. É muito abrangente, assim melhor entendida por exemplos no avesso: não ser corrupto, não mentir, não atestar falso, não se envolver com fraudes em pesquisa, assumir erros.

Altruísmo: Interesse do profissional da saúde pelo paciente, considerar suas necessidades de atenção à saúde os interesses acima de próprios interesses, o contrário de egoísmo.

Nem todas as virtudes são necessárias em todas as ocasiões, mas sempre serão vantajosas. Elas cabem também nos comportamentos dos pacientes e contribuem para o seu bem, como a fidelidade da adesão à conduta consentida, a integridade numa anamnese de fato sincera e a coragem, por exemplo na terminalidade da vida,  três das virtudes do octeto de Pellegrino.

Ademais, desejo acrescer duas virtudes, pois, percebê-las nos comportamentos dos colegas, eleva a nossa estima por eles: Boa-fé e tolerância.

A boa-fé é o respeito às veracidades éticas e legais vigentes, autenticidade profissional, respeito com o paciente e consigo mesmo. Faz da aplicação das evidências científicas e das qualidades técnicas um valor profissional.

A tolerância ajuda o profissional da saúde a transitar pela ideia que a verdade nem sempre faz adeptos, a reconhecer que as evidências científicas entram de modo relativo na composição das opiniões dos pacientes. A tolerância do profissional da saúde – ao não consentimento do paciente à recomendação- justifica-se porque a verdade é do conhecimento, mas o valor é do desejo.

O comportamento com virtudes é fruto, mais verde, mais maduro, da repetição, da prática, do hábito, do costume. Só pela vivência no cotidiano que o profissional da saúde pode construir o seu profissionalismo com qualidades de virtuoso.

Pacientes preferem um profissional da saúde que atuam de modo consciencioso, não ocasionalmente ou quando é vantajoso, ou seja, o que tem e mantém hábitos. E mais, muito importante, pacientes desejam certificar-se que suas vulnerabilidades não motivarão atitudes de coerção, proibição por parte dos profissionais da saúde que o atendem.

Uma geração de profissionais da saúde educa a próxima – hoje temos 5 gerações convivendo na beira do leito- , inclusive a respeito dos valores morais. O ambiente de trabalho conta muito para plasmar.

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