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856- Vir(Ati)tudes -Parte 6

OctetoSerá que o médico comporta-se de modo ético essencialmente porque teme as consequências do caput É vedado ao médico! presente em 117 artigos do Código de Ética Médica vigente? “… Senhor paciente, senhora paciente vou ser ético porque estou proibido de ser antiético, posso ser punido…”.IndiceSponville

A resposta majoritária é que não, que o médico atua sob a responsabilidade de Estou ciente que fiz isso! descontinuado de um texto heteronômico, de modo virtuoso de dentro para fora, ética qualitativa.

Assim, qualquer afirmação em contrário seria dar admissibilidade a um alerta de Platão na beira do leito. Seria dar como incontestável que os médicos fazem do anel de formatura um anel de Giges e, sorrateiramente, atuam com a pedra virada para baixo. Invisíveis, tornar-se-iam despreocupados com a ética e sem culpa porisso. A esmeralda para baixo faria desaparecer o É vedado ao médico! Assim, sem chance de ser refreado, qualquer antieticidade seria possível, uma liberdade que teria a barbárie de uma rotina ao avesso hipocrático da imprudência e da negligência. Que Narciso seria refletido desta invisibilidade?

Ou, então, que existe um pan-óptico conforme exposto por Jeremy Bentham (1748-1832) que vigia sem dar a perceber e assim obriga cada profissional da saúde a ser seu próprio vigilante ético. Um efeito desejável por meios indesejáveis.

Evidentemente, não há a ingenuidade de negar  a imprescindibilidade de alertas porque sempre haverá eticopatas que se mostram insensíveis a tudo de moralmente positivo que pode ser absorvido das próprias observações, dos exemplos de colegas e do feedback dos atendimentos.

É preciso mais do que o dever de fazer o que está certo, a motivação moral além da tecnocientífica tem sua importância e muita história por trás no profissionalismo. Desta maneira, a Bioética da Beira do leito sem desvalorizar a deontologia e mesmo o utilitarismo, coloca as virtudes no número 1 do podium da sustentação do dinâmico comportamento profissional, vale dizer, das conexões entre profissional da saúde e-paciente/familiar e entre vários profissionais da saúde. A fonte da ação ética centrada mais uma autovisibilidade da pessoa do que numa vista do código.

No mundo real da beira do leito contemporânea, cada encontro médico-paciente numa especialidade, cada circunstância clínica, cada infraestrutura disponível expande ou limita a seleção das qualidades do caráter a ser aplicada pelo profissional da saúde. Medicina do trabalho e oncologia clínica, por exemplo, exigem graus distintos de flexibilidade, paciência, devoção e adaptabilidade que provocam mais ou menos abrangência e aprofundamento nas virtudes que se possui.

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