PUBLICAÇÕES DESDE 2014

831- Difícil parar de cortar (Parte 1)

Médicos tomam sequentes decisões em meio a mais de uma opção ou mesmo frente a única opção, se ela deve ou não ser aplicada. Rotinas facilitam duelos entre imperativos e objeções de consciência na busca do de (interromper) caedere (cortar).

Cortar, recortar e entrecortar possibilidades marcam o cotidiano do estar médico ético praticando meios de promoção de saúde e de prevenção, diagnóstico e tratamento de doenças, cientificamente reconhecidos, a seu alcance e com respeito à legislação vigente.

O Pensador Auguste Rodin
O Pensador Auguste Rodin

Tradição do ser médico enfatizada em nossos últimos códigos de ética médica, a tomada de decisão na beira do leito do século XXI tem ganho influxos espinhosos que faz difícil adjetivação insuficiente.

As dificuldades são carreadas pelo encontro de métodos inovadores, expertise avançada de profissionais da saúde, eficiência de infra-estrutura hospitalar e um crescente tipo de paciente.

Que tipo? Seres humanos diagnosticados com doenças crônicas com alto nível de complexidades fisiopatológicas e distintas capacidades de adaptação e  autogestão aos desafios de ordem física (proteger-se contra danos),  emocional (enfrentar situações difíceis) e social (cumprir obrigações, portar-se com independência). As heterogeneidades de expressão provocam tensões nas interpretações sobre conveniências de benefício perante riscos que costumam levantar a questão: não seriam proibitivos? 

Em suma, disponibilidades e disposições apresentam-se nestes tipos de casos clínicos e geram pensamentos profissionais tanto cautelosos quanto contraditórios, destituídos de qualquer inibição para livres conjecturas em nome do bem-estar do paciente. Na mente do médico, sucedem-se imagens em 3D: Dilema, Desafio, Dúvida.

A atmosfera de pluralidades complexas encharcadas de incertezas porque líquidas (difíceis de se constituírem  numa forma sólida) exala terríveis contraposições sobre sobrevida e qualidade de vida do paciente quando o quadro clínico já prejudicado pelo mau prognóstico das morbidades é acrescido por uma situação clínica de urgência dissociada das mesmas na causa e nelas associada quanto a implicações terapêuticas.

O cenário com horizontes de terminalidade da vida inunda-se de  raciocínios clínicos que conflitam assertivas de beneficência e maleficência e produzem sucessivas inquietações a respeito de aspectos éticos, morais e legais. Torna-se dramático, a sobrevida do paciente entrelaçada com uma tomada de decisão do tipo 3 x 2, em que a mudança de um único pensamento deliberativo do médico inverte a conclusão sobre arriscar ou não o benefício cogitado.Pensamentos nômades

Pensamentos nômades

COMPARTILHE JÁ

Compartilhar no Facebook
Compartilhar no Twitter
Compartilhar no LinkedIn
Compartilhar no Telegram
Compartilhar no WhatsApp
Compartilhar no E-mail

COMENTÁRIOS

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

POSTS SIMILARES