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807- A borboleta e o gato

LorenzEm dezembro de 1972, o meteorologista Edward Norton Lorenz (1917-2008) apresentou perante a American Association for the Advancement of Science -Previsibilidade: O bater de asas de uma borboleta no Brasil provoca um tornado no Texas? o-efeito-borboleta-em-nossas-vidas-ogO efeito borboleta é aspecto central da sua teoria do caos, pequenas mudanças iniciais em grandes sistemas podem provocar efeitos drásticos. Dá para fazer alguma analogia na pandemia atual, evidentemente, com outra disposição geográfica, mas com concentração nas incógnitas/indeterminações/dúvidas.

No estado atual do que se sabe, o vírus SARS-CoV-2 atinge boca, nariz e olhos de uma pessoa e coloniza. Se este preciso momento de contaminação pudesse ser detectado, o que o médico poderia dizer para o paciente após a identificação? A resposta possível figura uma régua com uma extremidade assintomática e outra extremidade de alta gravidade clínica, com calibragens intermediárias de expressão fisiopatológica. Pelos recursos atuais, somente o decorrer do tempo pode revelar a realização das potencialidades evolutivas presumíveis da Covid-19.

Subentende-se, pois, que a partir do conhecimento de uma colonização, instalar-se-á uma dúvida provisoriamente irrespondível sobre qual efeito do vírus ocorrerá. Em tese, algum tempo após aparecerão sintomas que identificarão a calibragem acima referida ou será preciso um prazo convencional para considerar como definitivo o posicionamento na extremidade não doente.

Pode-se dizer, pois, que por um período de tempo, o colonizado referido seria cogitado, ao mesmo tempo, numa superposição de estados, o de um não doente e o de um doente ainda subclínico. Em outras palavras, a realidade que podemos por enquanto ver é uma composição do que não podemos ver, no caso em questão, uma relação em andamento – período de incubação – entre infectividade/suscetibilidade/defesas imunitárias. Por isso, vem a mente, uma analogia com a física quântica, que um elemento quântico pode ser partícula e onda ao mesmo tempo. Permito-me figurar a colonização como partícula e a realidade inflamatória reacional como onda.

Erwin SchrödingerEsta reflexão me fez lembrar do gato de Schrödinger (o físico austríaco Erwin, 1887-1961). É um experimento mental, um paradoxo, formulado em 1935. Um gato estágatoES dentro de uma caixa fechada onde existe uma fonte de decaimento radioativo, um contador Geiger (Johannes Wilhelm, 1882-1945) e um frasco selado com veneno – lembremos que vírus tem origem filogenética em veneno. Na eventualidade de o contador Geiger detectar um mínimo decaimento radioativo, o frasco de veneno se quebra e atinge o gato. Como não há meios disponíveis para espiar dentro da caixa fechada, considera-se o paradoxo de se mentalizar ao mesmo tempo o gato livre e sob o efeito do veneno.

Pesquisando sobre o gato de Schrödinger, encontrei uma variante denominada de amigo de Wigner (Eugene Paul, 1902-1995, Nobel de Física de 1963) que substitui o gato por um ser humano.  O tema é mais suave, pois se refere à possibilidade de ter ou não visto uma lâmpada acender. De qualquer maneira, lembrar que o mundo macroscópico não admite superposição de estados, mas que eles podem coexistir na imaginação enquanto dúvidas persistirem é assustador!

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