Hitchcock (Sir Alfred Joseph, 1899-1980) dirigiu os filmes Janela Indiscreta (Rear Window, 1954), O Homem que Sabia Demais (The Man who Knew too Much, 1934/1956) e A Sombra de uma Dúvida (Shadow of a Doubt, 1943). A lembrança do mestre do suspense é motivada pelas possibilidades de expectativas ansiosas pelo conhecimento dos resultados do teste genômico realizado sem uma indicação clínica.
Voluntários de pesquisa ao mesmo tempo em que se entusiasmam com a oportunidade e pressupõem utilidade, mostram dificuldade em compreender o significado das informações e, além disto, clínicos manifestam desconforto para interpretar diretamente para seus pacientes https://www.mdpi.com/2075-4426/10/1/13. Certa gagueira mental é habitual no médico pelas hesitações na articulação do raciocínio e na verbalização dos desdobramentos.
A questão de interesse da Bioética é: Testes genômicos em pessoas saudáveis constituem carga desnecessária e representam verdadeiras janelas indiscretas, excessos de informação e fontes recorrentes de dúvidas? Devemos ficar mais com Niels Bohr (1885-1962) Predição é difícil, especialmente sobre o futuro ou com Confucio ( 551 ac- 479 ac) Estude o passado e definirá o futuro?
A Bioética da Beira do leito respeita muito Protagoras (485 ac- 421 ac) quem pela primeira vez afirmou que Cada questão tem sempre dois lados, porém, à luz do que enxerga coerente com as atuais disposições da ética médica brasileira, tende a responder afirmativamente, que se trata de inconveniência porque não contribui para um benefício atual diagnóstico, terapêutico ou preventivo. Uma antecipação injustificada pode resumir a ausência de indicação do tipo check-up.
Apresento a seguir 10 entrecruzamentos a considerar:
- O respeito ao direito ao princípio da autonomia do paciente inclui satisfazer a curiosidade da informação pela informação?
- A recusa do médico em prescrever o exame genômico sem indicação clínica enquadra-se num desrespeito ao direito ao princípio da autonomia do paciente?
- A ausência de beneficência do exame genômico sem indicação clínica é argumento ético/moral/legal para o médico recusar-se a prescrever um exame genômico sem indicação clínica?
- O princípio da não maleficência sustenta a inconveniência da prescrição de um exame genômico sem indicação clínica?
- No mundo real, o exame genômico sem indicação clínica determina de fato mudanças de estilo de vida do examinado supostamente recomendáveis pelos resultados?
- A eventual prescrição de um exame genômico sem indicação clínica pelo médico pode ser ajuizada como imprudência pela perspectiva de gerar ansiedade e nenhuma alteração da conduta clínica?
- A prescrição de um exame genômico sem indicação clínica pode ser incluída na expansão do conceito de voyeur para qualquer curiosidade exacerbada sobre a intimidade de outrem?
- A prescrição de um exame genômico sem indicação clínica pode ser um ato médico que acresce riscos desnecessários de quebra do sigilo profissional?
- O espírito do check-up justifica incluir o exame genômico sem indicação clínica?
- A realização de um exame genômico sem indicação clínica representa um desperdício de tempo e dinheiro?