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777- Educação na beira do leito (Parte 2)

O médico que esclarece o paciente precisa prover vida em seus múltiplos sentidos, incluindo a vitalidade à comunicação com o paciente. O processo comunicativo representa uma condição especial de aprendizado que está mais para apreender (superficial) do que propriamente para aprender (em profundidade). É mergulho rápido suficiente na medicina, idealmente, com boias de confiança no médico.

Evidentemente, as imperfeições acontecem. Sempre haverá pontos obscuros e ambíguos. Poderíamos mentalizar algo análogo à historia mitológica do semideus grego Aquiles cuja mãe o mergulhou no no rio Estige para o tornar imortal, mas ao segurá-lo pelo calcanhar, deixou o local vulnerável. É notório que as indeterminações da medicina dominam a pauta dos esclarecimentos e são o calcanhar de Aquiles da imersão do leigo.

Assim sendo, o que constitui o processo de aprendizado express sobre medicina do paciente pelo médico visando ao consentimento requer habilidades de comunicação obrigatoriamente sensíveis a um feedback perceptivo sobre a real compreensão. O médico precisa ao mesmo tempo falar e ouvir-se falar – autocrítica sobre o que comunica-  e ouvir e ouvir-se ouvir – autocrítica sobre de fato atenção às manifestações de dúvidas do paciente.

Desta maneira, o período de tempo do esclarecimento pré-consentimento sensível a individualidades cognitivas representa um ensino/aprendizado especialmente caracterizado pela não contradição entre cumplicidade (diálogo) e independência (decisão). Desníveis habituais de conhecimento,  exigências  do sofrimento pela doença e efeitos da personalidade – tipos de indeterminações- reúnem-se  figurando calcanhares de Aquiles do consentimento de fato esclarecido.

A metáfora do mergulho acresce validade na medida em que, em geral, a informação recebida  pelo paciente persiste fluida e movimentada pela percepção e pela imaginação e não costuma solidificar-se científica além do entendimento sobre o potencial de vantagens e desvantagens para o caso. O esclarecimento pré-consentimento não se trata de aula de medicina é lição sobre tecnociência e humanismo.

A Bioética da beira do leito salienta que a mentalização do calcanhar de Aquiles no processo de consentimento do paciente contribui para robustecer a ética da responsabilidade e reforçar o uso de diretrizes clínicas avalizadas por sociedades de especialidade que, de alguma forma, passaram, contemporaneamente, a educar o médico na beira do leito. Vulnerabilidades “calcâneas” associadas às indeterminações da medicina ganham resguardo heteronômico na globalização do saber aplicável da medicina.

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