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738- Disposições recíprocas (Parte 1)

arton170-b600cRecentemente, deparei-me com o termo poetas malditos. Uma criação do século XIX para marcar escritores com estilo de vida na contramão de certas regras da sociedade e que se recusavam a trilhar caminhos predeterminados, mas todos com reconhecido valor literário. Logo, fiz uma analogia com duas denominações malditas da beira do leito contemporânea: não consentimento e paternalismo (o brando).

Para muitos, não consentimento e paternalismo (o brando) são duas atitudes fora do padrão, mas a Bioética da Beira do leito as enxerga com naturalidade e motivação para o aprofundamento, tendo em mente o ensinamento de Max Planck (1858-1947) que qualquer observação que em princípio irreal pode ter razões de ser, que reforçou após se perturbar com a constatação de uma partícula ao mesmo tempo corpúsculo e onda, e que o levou ao cognome de Pai da Física Quântica. Afinal, o pluralismo ensina a evitar defensivas e suspeitas apriorísticas e assim dar oportunidade para conhecer valores ocultos em certas posturas humanas até então surpreendentes, mas, perfeitamente justificadas por imperativos da condição humana perante vulnerabilidades e responsabilidades.

A Bioética da Beira do leito é aberta a fertilizações pelas realidades que alertam para diferentes formas de pensar e critérios, e, portanto, interessa-se por ambos malditos da beira do leito, os considera numa composição integrada e esforça-se por promover a horizontalidade destes comportamentos existenciais na beira do leito. A Bioética da Beira do leito recomenda que o não consentimento pelo paciente capaz estimule o paternalismo (o brando) pelo médico, entendendo que há a potencialidade de influenciar uma metamorfose para o consentimento. O brando não caracteriza conflito com o direito à autonomia pelo paciente, pois não há proibições ou coerções. Na verdade é adendo integrador, um tempo a mais de comunicação pelo profissionalismo de se preocupar de modo objetivo com beneficência/bem-estar do paciente.

Chances de eventual mudança do Não para Sim compõem-se com a identificação de possíveis causas da contraposição como medo, memória de certos fatos negativos e incompreensões sobre  aspectos clínicos e tecnocientíficos. Re-explicações proporcionam complementos mais aprofundados para uma assimilação transformadora. A maneira como que se desenvolvem os adendos sobre o caso para o paciente tem influência direta no resultado. É desejável que o novo diálogo não seja exatamente um mais do mesmo, mas uma oportunidade para ver de outra forma,  aproximar do real individual e enfrentar melhor os desafios, Por isso, deve expressar mais identificação dos objetivos e necessidades com o que está se passando – ou não passando- na mente do paciente.

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