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717- Serenidade (Parte 1)

Crédito: https://br.123rf.com/photo_46197551_Vector_illustration_of_doctor_man_carrying_his_first_aid_bag.html
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O médico sereno costuma ser um bom remédio. Ele é prescrição natural que inspira confiança sem contraindicação e sem adversidades. Bom remédio para o médico também. Serenidade faz bem para o íntimo, pois é um parâmetro para prover os cuidados ao paciente e ao mesmo tempo respeitar os próprios limites.

É da década de 80 do século XX  a revelação que estados de relaxamento e sensação de segurança favorecem a serenidade que se opõe a desgastantes domínios de raiva, medo e depressão. A conquista da serenidade é bem-vinda em tempos de ascensão da frequência do burnout entre os profissionais da saúde.

A serenidade profissional é valioso estado emocional no desempenho do médico na medida em que se alinha à convicção própria sobre suas capacidades e limitações e assim:

a) preserva o rigor tecnocientífico, coopera para a clareza na visão das possibilidades de sucesso e insucesso dos métodos validados e disponíveis e equilibra beneficência e não maleficência;
b) permite abertura para o desconhecido, o imprevisível dando valor para a autonomia;
c) facilita a tolerância que compreende nuances de escolhas no processo do consentimento pelo paciente, possibilitando ajustes sem representar nem passividade de submissão nem  concessão irresponsável.

O termo serenidade não é muito utilizado nas avaliações que os médicos fazem sobre seus compromissos consigo mesmo. Mas, assim que percebe o bem-estar provindo da serenidade, o profissional da saúde cuida para não a perder. Luta árdua face às realidades profissionais.

A Bioética da Beira do leito entende que a manutenção de um nível alto de serenidade deve ser uma meta do cotidiano do profissional da saúde. A conciliação do dever de se envolver com direito de se manter sereno deve acontecer, idealmente, sem exageros para a transcendência e nunca pelo caminho da indiferença/anestesia da sensibilidade/escapismo que, obviamente, desconecta e não promove os cuidados necessários. Não ter sido tirado do sério é uma benção de final de dia! Um sonoro Ufa! que revigora a autoestima.

O contexto justifica a tradição que recomenda ao médico não assumir atendimentos de familiar próximo. Será difícil manter a paz interior forjada no profissionalismo. Será praticamente impossível preservar a calibragem profissional da influência das emoções para face às realidades patológicas.

A serenidade profissional na beira do leito sempre enfrentou desafios e os atuais são dominados pelos vieses da informação via internet, violência verbal e física, desrespeito pela função e falta de recursos humanos e materiais no sistema de saúde. O simbolismo da armadura medieval é bem-vindo para resguardar a serenidade do profissional da saúde da sucessão de golpes de naturezas variadas.

Em outras palavras, não é apenas a tensão dos aspectos tecnocientíficos envolvidos no atendimento que tem o potencial de comprometer a serenidade, há a etiopatogenia associada a climas de acirramento de ânimos, beligerância e ressentimento. Comitês de Bioética acumulam esta origem. Um forte antagonista da serenidade é a inquietação prolongada provocada por pensamentos recorrentes sobre intimação por um processo ético.

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