Estamos vivenciando uma posição antipaternalista na beira do leito. Uma oposição à atuação do médico de pretender beneficiar o paciente entendendo que este não possui capacidade mental para fazer escolhas tecnocientíficas fundamentadas.
Há três aspectos considerados negativos no paternalismo atuante na beira do leito.
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Interferência coercitiva nas escolhas do paciente feita pelo médico;
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Intenção do médico distinta da do paciente;
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Entendimento pelo médico que o paciente (capaz) não tem capacidade para tomar decisão.
Há poucas décadas, esta tríade era praticada com aval deontológico, inclusive esperada e cobrada para o bem do paciente. Atualmente, ela é interpretada como abuso. Surgem, então, duas questões ante a transformação de raiz ética: A visão contemporânea exigente da participação ativa e respeitada do paciente no processo de tomada de decisão deve abrigar a mudança radical qualquer que seja a circunstância do atendimento?
A ascensão da autonomia na beira do leito migrada da pesquisa contribui efetiva e moralmente para encaminhar o benefício e reduzir o malefício? Para início de conversa, a autonomia pode ser negada ao paciente em iminente risco de morte evitável e quando ele estiver incapaz cognitivamente.
Convido o bioamigo a fazer algumas reflexões, afinal é sempre útil realizar ginástica de neurônios para condicionar as sinapses. No processo de atendimento ao paciente, o terceiro item acima relacionado entendimento pelo médico que o paciente (capaz) não tem capacidade para tomar decisão, não seria necessário, pelo menos no seu início e especialmente em pacientes desacostumados em participar de conexão médico-paciente?
Evidentemente, não será um insulto à pessoa do paciente reconhecer a incapacidade, não no ato do raciocínio, mas, pela carência de matéria-prima para praticar as ponderações. Desde Hipócrates (460ac-370ac) há o contexto da impossibilidade do autoconhecimento pelo paciente-leigo.