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712- Propósitos e realidades (Parte 1)

Culturas se renovam. A linguagem acompanha. Mundos individualizados criam-se destacados da natureza. Este sentido figurado expressa-se no ecossistema da beira do leito. Ele dá consciência aos princípios da Bioética. São aplicáveis e úteis em cada universo sempre em metamorfose formado pela medicina, médico e paciente.

Níveis distintos de realidade em simultaneidade fazem parte desta integração. Eles se sustentam ou pela memória pela qual o médico, por exemplo, recorda-se de como o paciente estava na consulta passada e, assim, visualiza e compara ambas realidades e percebe, então, que a atual é uma piora clínica, ou pela imaginação, pela qual o paciente, por exemplo, decodifica a recomendação do médico a sua maneira e já se visualiza numa segunda realidade de volta a sua rotina.

Propósitos e realidades do ecossistema da beira do leito guiam pensamentos, estes diálogos consigo mesmo que são motivados tanto pela liberdade teórica dada pelo direito à autonomia (não estou gostando, vou negar) quanto pela não-liberdade prática causada pelo sofrimento da doença (preciso de ajuda).

Para o proveito, pensamentos devem ser transformados em diálogoe externos para que permitam acontecer ajustes à vontade, este desejo+movimento que, como exposto por Hannah Arendt (1906-1975), tem como essência  impor (-se) e mandar. Adaptações às vontades do paciente e do médico apresentam pressupostos distintos, pois se por um lado a ciência não obedece a vontades e assim limita o médico, por outro, o paciente está desobrigado a obedecer à recomendação da ciência.

Há pessoas que se esforçam em adaptar propósitos às realidades (paciente muda seus hábitos, deixa de fumar após um infato do miocárdio) e há pessoas que se animam a adaptar a realidade a seus propósitos (paciente restringe sua qualidade de vida para se manter assintomático).

Desde a faculdade, o médico percebe que propósitos e realidades são dinâmicos na medicina. Décadas de convívio com a beira do leito mostraram que o pensamento crítico/raciocínio clínico é o mais precioso item da bagagem profissional para atender à incessante pós-graduação.

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