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704- Na beira do leito, adversidade é uma questão da prudência e da coragem (Parte 3)

A probabilidade da ocorrência da adversidade à beneficência pode ser subdividida em frequente, ocasional e rara. Fármacos, o método terapêutico mais utilizado, costumam, por exemplo, envolver-se com as três categoriais.

A inexistência do risco zero de adversidade traz um aspecto prático de interesse da Bioética: qual é o grau de abertura sobre o leque das adversidades que o médico deve idealmente comunicar ao paciente?

A questão reúne a probabilidade com a gravidade da ocorrência. Num alinhamento ético, interrogações sobre o futuro do ontem da prescrição persistem presentes no decorrer da evolução clínica.

Nenhuma abertura do leque de adversidades seria antiética, em princípio, no aspecto da comunicação do médico ao paciente. Grandezas baseadas na experiência do médico são justificáveis. Ocorrências não previstas podem ser interpretadas como falhas de comunicação ou de aplicação. A mais completa abertura, sedutora para o quesito defesa profissional antecipada, costuma ser desnecessária e até deixar uma conotação terrorista. O bioamigo concorda que é aterrorizante saber que a ingestão de um comprimido carrega a possibilidade de morte súbita? Pois é, parada cardíaca está escrito em algumas bulas de medicamentos.

Desordens cardiovasculares
insuficiência cardíaca, angina (dor no peito), infarto do miocárdio, parada cardíaca.

Estabelecer níveis de certeza da relação causa e efeito é tarefa complexa, e, por isso, a necessidade de um raciocínio clínico apurado sobre gradações de improvável, provável e possível. Não infrequente, reações adversas são subclínicas, apenas percebidas pelo médico com base na anamnese, no exame físico ou em exame complementar do paciente.

De acordo com o juízo clínico, avaliações de incidência provável ou possível – toxicidade, por exemplo, em usos contínuos prolongados ou efeitos mais agudos como alergia- podem recomendar ajustes na prescrição inicial ou na manutenção. A atenção ao princípio da não maleficência é aspecto ético fundamental que tem suporte na qualidade da conexão médico-paciente presencial ou não presencial.

A possibilidades do controle de adversidades é ponto alto da interface beneficência/não maleficência. A história do paciente e a catalogação de efeitos frequentes são essenciais para providências preventivas, contudo, nem sempre ajudam na preocupação maior com níveis altos de gravidade e irreversibilidades. Assim, como antecedente de alergia grave contraindica o uso de fármaco, habitualidades requerem não somente análises laboratoriais periódicas, como também, suplementações preventivas- como evitação de hipopotassemia no uso de diurético. É aspecto moderno do hipocrático princípio da não maleficência.

Até aqui tocamos na interface entre os princípios da beneficência e da não maleficência. É preciso considerar também a interface da não maleficência com o princípio da autonomia. Nem sempre, a visão profissional – sustentada num coletivo- coincide com a visão leiga – baseada na individualidade de desejos, preferências, objetivos e valores. Assim, incertezas, inevitabilidades e desconhecido provocam reações próprias na mente do paciente e justificam o consentimento  para o risco e para providências caso a potencialidade se realize. Um reforço para o valor da conexão médico-paciente.

A Bioética da Beira do leito entende que a tendência é o profissional da saúde focar mais fortemente na beneficência de planejamentos terapêuticos, razão pela qual alerta para o compromisso ético com eventuais implicações de adversidades. Desaconselha qualquer conotação simplista de faz parte, um preço justo a ser pago, não há outra maneira.  

No benefício, o paciente conhece as expansões da medicina, no efeito adverso a medicina reconhece seus limites com o paciente.

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