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700- Na moral (Parte 3)

Excelência na beira do leito não colide com o pensamento há um melhor. Eventuais contraposições de pontos de vista entre médico e paciente não afastam a excelência. Discordâncias podem ser tão somente indicadores da realidade do momento a serem respeitadas, e porque não? constituírem estímulos dialógicos lapidadores.

No desejável clima respeitoso do ecossistema da beira do leito, os dilemas são oportunidades de encontros de verdades encaminhadoras do objetivo de excelência. É da medicina que não tem como evitar premissas contraditórias e mutuamente excludentes- diagnóstico diferencial, por exemplo. Mãos à obra!

Disponibilidade de tempo, eis o entrave! A inobservância do tempo qualitativo prejudica a excelência. Lembremos Mario Quintana (1906-1994) e adaptemos livremente para a beira do leito: O mais feroz dos animais domésticos é o relógio de parede: conheço um que já devorou três gerações da minha família. Na beira do leito, corremos contra o tempo em função da história natural das doenças e nos detemos em intervalos para dar a necessária distribuição pelos casos. O médico ético vive ressentido com o sentido horário. Seus movimentos reproduzem a areia da ampulheta. O respeito ao tempo sustenta a imortalidade da medicina.

Dilemas provocados por olhares morais costumam ter desdobramentos ilimitados e destituídos de soluções com a firme etiquetagem de certas ou erradas. Assim, a integridade moral na beira do leito exigida pela excelência na beira do leito articula-se com a pluralidade e qualidade dos esclarecimentos prós e contras.

Ao longo da conexão médico-paciente, os valores humanos trazem influências não necessariamente uniformes nos vários momentos do atendimento às necessidades de saúde. Reações distintas numa primeira e numa segunda opinião são emblemáticas neste sentido. Sempre e jamais são dois advérbios de tempo sob constante questionamento. Nada é imutável ou acabado na beira do leito, tudo é passível de modificação.

Tempo e moral unem-se para uma permanente (re)construção, é impossível eliminar o risco de confrontos na beira do leito causados por interferência de valores. Quem já vivenciou sabe dos andamentos.

Ao som do tique-taque do relógio que expressa o racional e do tum-tac do coração que simboliza o emocional, o médico representa a autoridade na aplicação da medicina e dá vitalidade ao princípio da beneficência. Não basta.  A cronologia dos fatos ensina que a ética na saúde é exigente e considera além do conhecimento tecnocientífico relevantes os valores envolvidos no processo de tomada de decisão.

Particularmente, os valores do paciente contam muito na decisão pois é por meio deles que a beneficência esclarecida pelo médico – que se subentende possuir os valores do bom profissionalismo- é interpretada e reinterpretada como benefício- ou não. A viragem da beneficência (teórico) como benefício (prático) movimenta-se sobre os ponteiros do relógio que às vezes está mais para corda bamba sem rede de proteção.

A Bioética da Beira do leito entende que uma tomada de decisão para obter uma qualificação de excelência deve preservar o máximo possível os valores manifestos e ser respeitosa do tempo qualititavo. Assim como é inconcebível qualquer atitude de coerção, médico e paciente devem se sentir livres a ponto de poderem considerar um extremo de se retirar da relação – vale dizer, dispensar o tempo cogitado- pela percepção da impossibilidade de resolução de conflito acerca de valores. É da ética saber como consumir o tempo na beira do leito em favor da beneficência e do respeito à autonomia.

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