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683- Autonomia, um tema inesgotável (Parte 2)

O bioamigo há de concordar, o valor de a clínica é soberana persiste, mas, a verdade da imagem cada vez mais rege decisões. Pessoas nunca sintomáticas não são isentas de doenças. Um checkup revela anormalidades, é fato, mas, é por meio de pesquisas clínicas que se procuram critérios sobre quais revelações requerem condutas terapêuticas imediatas em nome do prognóstico.
Participei de muitas discussões sobre vantagens e desvantagens de corrigir uma valvopatia grave enquanto o paciente se mantivesse assintomático, onde não faltavam argumentos contrapostos. Intervir no ainda ovo ou somente quando se tornar a galinha? Um olhar no benefício de eventual intervenção, outro no potencial do seu malefício. Tempos atrás, dominava um discurso médico ao paciente, mais recentemente, dispõe-se ao diálogo médico-paciente. Todavia, há de se convir que o que não está claro para o próprio médico costuma confundir esclarecimentos e provocar ambiguidades no paciente. A melhor evidência movimenta-se.
Costuma provocar uma sensação vacilante no paciente uma decodificação de profissional evasivo sustentada pelos estímulos auditivos e visuais que recebe. Face ao desconhecimento técnico, um tumulto mental  atinge o paciente. É como alguém ensinar que a terra é que orbita no sol, mas este nasce no leste e se movimenta pela terra em direção ao oeste, um exemplo de ilusão verdadeira. Imaginação e comunicação sustentando direcionamentos para agrado ou desagrado.
Aliás, esta dupla formada por imaginação e comunicação tem sido historicamente poderosa na beira do leito. Ela foi fundamental para o desenvolvimento das várias etapas da medicina, razão para muitas inseguranças herdadas. Até o século XIX, os pensamentos do médico eram dominados por conhecimentos anatômicos e funcionais que provocavam tímida resolubilidade. A partir de então, acelerou-se o potencial de soluções pela medicina. O século XX cuidou da doença, o século XXI promete cuidar da saúde. Cuidar bem, evidentemente, mas, o que isto significa exatamente? Duas pessoas ou a mesma pessoa em momentos distintos podem enxergar de modo diferente o uso dos métodos diagnósticos, terapêuticos e preventivos. Sabe-se do sol pela ciência e o órgão do sentido chamado visão interpreta diferente o seu movimento, um comportamento que exige explicações técnicas e confiança para o convencimento.
O acúmulo de conhecimentos e de habilidades trouxe um sentido de autoridade ao médico, e em decorrência, de obediência (prescrever é ordenar- o médico me mandou fazer uns exames). Todavia, excessos dissimulados aconteceram, violências deploráveis resultaram praticadas em nome do interesse da medicina e, por isso, a hierarquia do saber foi contraposta pelo direito à voz ativa do paciente- leigo e cidadão.
Continua na parte 3

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