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657- Complexidades (Parte 1)

A medicina nunca foi nem será descomplicada. O que não significa um radical desapreço pelo significado da Navalha de Occam (Guilherme, 1285-1349) que postula que se deve priorizar teorias mais simples que explicam mesmos resultados.

É verdade que era mais fácil ser médico quando eu me formei. Ultimamente salta aos olhos. A  tendência da medicina é ficar mais difícil para os médicos exercerem levados por acasos ou por vontades. As únicas similaridades entre as sucessivas gerações de médicos são o juramento de Hipócrates para afirmar solenemente à formatura e o direito a ter um número de CRM para carimbar. Não me ocorre mais nenhuma.

René Descartes (1596-1650) afirmou que não existem métodos fáceis para resolver problemas difíceis. A experiência profissional na beira do leito endossa. Por isso, o efeito resolutivo reconforta frente  às dificuldades no domínio da teoria e na execução prática na medicina. O difícil facilita a realização das potencialidades dos métodos disponíveis. Um par de meses passou a ser a unidade de tempo para proporcionar um nível mais elevado de atenção e de resolução acerca das necessidades de saúde tanto sob o ponto de vista individual quanto da sociedade em geral.

Doenças são difíceis de dominar, doentes são difíceis de lidar, médicos são difíceis de se manterem conformados,  instituições de saúde têm dificuldades em manter um atualizado domínio do conjunto. É essencial que não ocorra desestímulo ao trabalhoso, que haja interesse pela dificuldade facilitadora. Uma sabedoria do saber envolvido em complexidades.

Em algum momento da carreira, os médicos reconhecem que são as estressantes dificuldades profissionais que abastecem o poder de beneficência dos métodos. Na acelerada contemporaneidade do saber desde a etiopatogenia à terapêutica, as sequentes dobras do conhecimento vão integrando tudo que é de interesse da medicina. No valor da multiplicidade repousa a disposição pelo diálogo transdisciplinaridade entre todas expressões de ciência e de arte.

As complexidades, causas e consequências, devem ser desdobradas. O complexo necessita de intenções profissionais para desfazer sobreposições- da colônia de bactérias aderida a um tecido, do mecanismo de autoagressão aposto a um órgão, do malefício de um fármaco sobre um sistema.

Cada desdobramento é um descomplicar em prol do melhor prognóstico. Tem grau laborioso e exige justificativas éticas. As vantagens crescem à medida que se obtém mais orientação sobre o desfazimento das dobras pelo domínio de evidências sobre como elas se formaram.

É uma arte simplificar sem se valer de reducionismos, pois estes não costumam caber na dedicação para desfazer as dobras de cada caso. Curiosamente, são maneiras complexas presentes em inovações e novidades que fazem confiar no poder de resolver cada vez mais complexidades. A equação sobre disposições recíprocas para complexidades parece clara: complexidade reage com complexidade e produz suficiente simplificação. A curva de aprendizado lubrifica.

A Bioética da Beira do leito  interessa-se pela eticidade e legalidade do domínio das reações entre complexidade da doença e complexidade da medicina que capacitam para a obtenção de simplificações facilitadoras da aplicação pelo médico e do esclarecimento para o paciente.

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