Complexidade: A beira do leito contemporânea convive com uma multiplicidade de interações que fazem emergir entrelaçamentos. O médico contemporâneo deve se preparar para uma compreensão não somente das propriedades de cada parte envolvida como dos significados do todo resultante.
A medicina contemporânea valoriza o diálogo sobre convergências e divergências entre as potencialidades cogitadas de resultados na tomada de decisão e suas subsequentes realizações. Avaliações de superioridade ou de não inferioridade de métodos a serem recomendados costumam envolver entrelaçamentos de potencialidades contraditórias.
O cuidado com cada desdobramento é essencial para a definição de indicação, não indicação ou contraindicação sobre determinado método inicialmente cogitável. O estabelecimento de rotinas é uma forma de reduzir as dobras da complexidade por um planejamento constantemente testado e aperfeiçoado segundo a combinação de estado da arte e preceitos morais, éticos e legais. Cada tomada de decisão à beira do leito precisa respeitar limites de simplificações para que as fragmentações não prejudiquem a perspectiva geral e o pensamento sistêmico.
O desafio dos desdobramentos da complexidade facilitadores da decisão não pode dispensar a virtude da prudência, vale dizer, a cautela com o amanhã interpretativo do profissionalismo empregado – amanhã clínico, amanhã do juízo moral, amanhã do juízo ético e amanhã do juízo legal, o que chamaríamos de dever com o futuro. A complexidade da medicina contemporânea não permite dispensar dinâmicas do contraditório no processo do raciocínio clínico como exercícios de realidades possíveis até ocorrer as escolhas. Habilidades de comunicação esclarecedora ao paciente para a verbalização do consentimento (ou não) de certa forma desenvolvem-se pari passu com o desenvolvimento de um autoconsentimento ético para roteirizar cada caminho decisório. Os desafios sucessivos das complexidades da medicina sobre a rotina decisória encontram analogia com Um menino nasceu! – O mundo tornou a começar! de Grande Sertão: Veredas escrito por João Guimarâes Rosa (1908-1967): Um caso nasceu! A medicina tornou a começar!
